Terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 16 de dezembro de 2025
O gato Fred chegou ainda tão pequeno em nossas vidas que parecia um fiapo de fogo caminhando pela casa. Ruivinho, charmoso, com aquele olhar de quem já sabia que o mundo era dele.
Mas conquistar um lar não é tarefa simples, ainda mais quando existe uma “Gata Pretinha”, a dona veterana da casa, acostumada a observar tudo do alto da sua autoridade felina.
No começo, a Pretinha fez o que toda velha matriarca faz quando um adolescente atrevido aparece na porta: bateu, expulsou, rosnou, bufou e deixou claro quem mandava ali.
Fred, porém, nunca se intimidou. Voltava sempre, como quem dizia: “Sim, senhora… eu entendo. Mas volto amanhã”.
E foi assim, na teimosia doce que só os gatos têm, que ele entrou. Primeiro, pela porta. Depois, pelo coração da família. E, com o tempo, até pelo coração da própria matriarca.
A Pretinha, já no papel de vovó resmungona, acabou aceitando o intruso ruivo. Fred virou o mimado da casa. Ganhou cama, carinho, comida boa, colo e um lar cinco estrelas, apesar das travessuras: tapetes revirados, objetos derrubados e a mais temida de todas, a destruição do rolo de papel higiênico no banheiro.
Mas havia um detalhe: Fred cresceu… e tinha alma de Don Juan.
A casa era ótima, mas a rua chamava. O conforto era perfeito, mas a aventura tinha cheiro irresistível. E foi assim que ele apareceu com uma novidade:
arrumou uma namoradinha na rua.
Uma gata Siamesa, olhos claros, andar insinuante, drama de novela. Uma verdadeira Jezebel felina.
Representante oficial de uma categoria conhecida por quem tem gato: as “Vagatas”…
Toda cidade tem uma. Ou duas. Ou uma gangue inteira.
Existem vários tipos: a Dramática, que se joga no chão; a Profissional, que seduz qualquer um; a Insistente, que mia na porta com convicção; a Espiona, sempre observando; e a Nostálgica, que lembra histórias que só ela viveu.
E foi numa dessas noites que Fred viveu sua aventura mais folclórica.
A grande noite de Fred
Ele surgiu caminhando com três “Vagatas” ao redor, desfilando como galã. Ele no centro. Elas orbitando. Só faltaram óculos escuros.
Mas a rua tem regras próprias. Dos telhados surgiram os veteranos: gatos grandes, marcados, experientes. Thor avançou primeiro. Brutos veio logo atrás, confiante.
As “Vagatas” entraram em modo espetáculo. Foi então que Fred percebeu:
a noite exigiria mais do que charme. E ativou seus conhecimentos secretos, as aulas de Gato-Jítsu e Krav Magato patrocinadas pela família.
Arqueamento da Sombra. Pata Fantasma. Rabo Hipnótico. Areia Giratória. E o lendário modo camuflagem.
A luta foi curta, intensa e cinematográfica. Fred venceu. Saiu com o pelo arrepiado, olhar elétrico e prestígio eterno. Virou mito. O gladiador ruivo do bairro.
As “Vagatas” o cercaram como se fosse um astro do rock. Mas, depois da poeira, da adrenalina e do drama noturno, Fred fez o que todo Don Juan sensato faz quando a madrugada esfria: voltou para casa.
Porque a rua é sedutora, cheia de promessas fáceis. Mas o amanhecer revela uma verdade simples. O mundo pode oferecer aventuras. Mas o conforto, o amor e a segurança sempre estiveram ali.
Fred pode brincar de galã, conquistar “Vagatas” e enfrentar veteranos… Mas, quando o dia clareia, ele dorme tranquilo porque até o Don Juan felino sabe:
no fim das contas, o melhor lugar do mundo é onde alguém te espera.
Essa história não é apenas sobre gatos…
* Fabio L. Borges, jornalista, cronista e poeta