Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de outubro de 2025
Um novo público tem sido atraído para a MPB: os jovens da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010). Segundo dados do Spotify, o consumo de música brasileira popular cresceu 47% entre 2022 e 2024. Só a galera de 18 a 24 anos foi responsável por 64% desse aumento.
Dos clássicos, os cantores mais ouvidos foram Chico Buarque e Tim Maia. “A MPB começa nos festivais de canção da década de 1960 e tem como horizonte a transformação da realidade social ”, conta a socióloga Daniela Vieira, pesquisadora em música popular na Unicamp.
Ela explica que, ao longo dos anos, o ritmo musical acumulou ouvintes de 50 anos de idade ou mais. Porém aponta dois motivos para o aumento do interesse no público jovem.
O primeiro são as parcerias de compositores de diferentes gêneros. “Temos visto encontros de artistas contemporâneos da cena com cantores antigos da MPB, como o rapper Criolo dialogando com Chico Buarque e regravando canções de Milton Nascimento, Caetano Veloso em álbum do Emicida e o rapper Djonga fazendo uma releitura do disco Clube da Esquina”.
A outra razão se dá ao fato da facilidade em que a música passou a circular hoje em dia. “Antes era na rádio, hoje é no Spotify e nas redes sociais”, diz Daniela Vieira.
Chico e Tim Maia
O uso recorrente de canções da MPB está em alta em trends, formatos de conteúdo em vídeo presentes no Instagram e no TikTok. Um acesso rápido a essas plataformas e canções como “Construção”, de Chico Buarque, ou “O Descobridor dos Sete Mares”, de Tim Maia, irão aparecer na barra de rolagem do usuário.
Maria Eduarda Limeira, 18, é um dos casos que teve o gosto musical influenciado pela rede social da ByteDance. “‘Apesar de você’, do Chico, foi uma das primeiras que escutei e me chamou atenção. Passei a ouvir mais músicas dele, como ‘João e Maria’, ‘Cálice’ e ‘A Banda’ “, conta.
Para Lucas Waltenberg, especialista em mídias sociais da ESPM, esse comportamento dos jovens de resgatar clássicos da música popular está associado a uma questão de nostalgia: “Trazer canções de gerações passadas e viralizar nas redes faz parte da tendência deles”.
Ele explica também que o uso de canções em vídeos é uma forma de deixar o material mais rico e interessante: “É uma maneira de você estabelecer uma conversa no vídeo sem necessariamente precisar falar algo, porque a letra está falando por você”.
“Cotidiano”, de Chico Buarque, explica bem isso. A composição fala sobre uma mulher que repete as mesmas ações todos os dias. Nas redes sociais, serviu de pano para a trend “Tenho medo de você enjoar de mim”. A brincadeira mostra jovens mulheres que seguem a mesma rotina diariamente e que, por este motivo, jamais enjoariam de suas ou seus parceiros.
Além das trends
Para além da nostalgia e das trends, Daniela Vieira reforça que o sucesso da MBP está ligado à sua contribuição histórica e cultural: “São canções que falam de aspectos significativos da história brasileira, como o golpe civil-militar e redemocratização.”
A pesquisadora define a música popular brasileira como “um movimento importante para mobilizar o povo”, mas que não ficou no passado. Em setembro, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil se juntaram aos protestantes nas passeatas contra a PEC da Blindagem e as propostas de anistia aos condenados por trama golpista.
Como ouvinte de MPB desde criança por causa de sua mãe, Malu Vieira (20) enxerga essa qualidade no Chico, seu cantor favorito. “Você tem o Chico cronista, mas também o romântico. Ele sempre esteve à frente do seu tempo. Quando o ouvi nas redes, fiquei muito feliz, mas também com ciúmes”, confessa.
Malu também apresenta artistas da nova geração da MPB para sua mãe Luciana (44), como as cantoras Marina Sena e Liniker, e a dupla Anavitória. (As informações são da Folha de S. Paulo)