Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de outubro de 2021
Após uma consulta ginecológica na última segunda-feira (4), a goleira espanhola Alba Aragón, do CAP Ciudad de Murcia, time da 4ª divisão da Espanha, se surpreendeu ao receber do ginecologista um laudo de que ela estaria com uma “doença homossexual”. A jovem de 19 anos denunciou o ocorrido ao hospital onde foi realizada a consulta.
No entanto, ainda que o Serviço de Saúde espanhol e o ministro Juan José Pedreño tenham lamentado a situação, trataram o caso como apenas um pequeno erro.
A atleta de 19 anos relata que se dirigiu ao Hospital Reina Sofia devido a um incômodo com a irregularidade de seu ciclo menstrual e, durante a consulta, comentou sobre sua sexualidade com o médico — concordando que a informação fosse colocada em sua ficha médica.
Porém, após o recebimento do laudo, se surpreendeu com sua orientação sendo citada como uma doença. A identidade do profissional não foi revelada.
“Disse-lhe que era homossexual porque achei que era relevante para os exames que ia fazer. Eu gosto de mulheres desde os 15 anos e não tenho vergonha de o dizer”, disse em entrevista ao jornal El Español.
A jovem chegou a alertar o hospital, que afirmou nunca ter recebido reclamações assim contra o médico. Ainda segundo o jornal, a mãe de Alba admitiu que prestará uma queixa formal.
“Lamentamos profundamente o erro cometido ao coletar os dados no relatório clínico do ginecologista que tratou a paciente”, afirmaram os dirigentes do hospital em nota.
O CAP Ciudad de Murcia também apoiou a goleira. Em postagem no Twitter, o clube compartilhou o laudo recebido por Alba e cobrou providências. “Exigimos que as responsabilidades sejam esclarecidas e apoiamos incondicionalmente a jogadora em sua corajosa reclamação”, destacou.
Brasil
Em julho, um médico alagoano denunciou um colega de profissão por compartilhar conteúdos homofóbicos no grupo de WhatsApp da Cooperativa dos Anestesistas de Alagoas (Coopanest/AL). O anestesista Rafael Peterson prestou queixa no Ministério Público de Alagoas (MP-AL).
O grupo reúne mais de 90 médicos anestesistas do Estado. Ele disse que uma das mensagens compartilhadas pelo grupo retrata uma interlocução entre crianças e dois pais do sexo masculino que pedem aos pais que não deixem que as crianças assistam ao vídeo porque promove a destruição da família.
A outra postagem, segundo ele, é uma foto que mostra uma mão em formato de garra indo em direção a família composta por um casal, homem e mulher, e mais dois filhos, e essa mão em garra está com as cores representativas da comunidade LGBTQIA+.
“Na postagem está escrito ‘amigos, viados e demais letras nada contra vocês, mas a família é sagrada’” conta o médico, ao esclarecer que o objetivo de fazer o relato é para coibir esse tipo de ação.
“O meu objetivo é que ações como essas sejam coibidas e que se tomem as devidas decisões judiciais para que essas situações não aconteçam mais”, disse Peterson. “Postagem como estas com conteúdos discriminatórios que promovem a exclusão social e incitam preconceitos devem ser coibidas. E foram realizadas em um grupo de médicos anestesiologistas cujo objetivo é discutir questões profissionais e foi por um médico que exerce uma atividade tão nobre. A gente vê esse tipo de ação em que a gente que tem uma orientação sexual diferente dos demais se sinta discriminado, excluído e ainda ver a incitação ao preconceito a partir do momento que dissemina mensagens como essas”, expõe.
Ele conta que prestou queixa no MP para que casos como esse não aconteçam mais. Peterson disse que em 2015 sofreu uma ameaça verbal em um hospital que trabalhava por um colega de profissão e na época não fez a denúncia.
“Recentemente em frente a minha residência eu recebi violência gratuita por prestadores de serviço. E agora eu vejo essa ação extremamente desconfortável dentro de um grupo de profissionais que sabem da minha orientação sexual, da minha ação enquanto cidadão, enquanto pessoa que exerce suas obrigações tanto profissional como familiar”, disse.
Peterson divulgou sobre a denúncia e com imagens de alguns prints em sua rede social. “O meu objetivo é que ações como essas sejam coibidas e que se tomem as devidas decisões judiciais para que essas situações não aconteçam mais”, completou.
No Brasil, a homofobia passou a ser criminalizada em 2019. O Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais devem ser enquadrados no crime de racismo.