Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de março de 2023
Menos de uma semana após o discurso xenofóbico de um vereador caxiense contra o povo baiano, o episódio continua a render novos capítulos. O mais recente é um pedido de desculpas apresentado pessoalmente – com direito a abraço – pelo governador gaúcho Eduardo Leite ao cantor e compositor Gilberto Gil, nascido no Estado nordestino. O encontro foi realizado antes de um show em Porto Alegre na noite de sábado (4).
O gesto teve caráter informal e simbólico, resultando em conversa animada durante alguns minutos. Em suas redes sociais, o chefe do Executivo do Rio Grande do Sul postou depois um vídeo do momento em que foi recebido no camarim do Auditório Araújo Vianna (bairro Bom Fim), local do evento.
“A gente lamenta muito isso”, disse Leite ao músico de 80 anos. “Você é um representante do Brasil todo, muito mais do que apenas da Bahia. Vim aqui pedir desculpas por esse absurdo [a fala preconceituosa do parlamentar municipal da Serra], que não representa o pensamento do povo gaúcho”.
Logo em seguida, o governador pediu – e ganhou, de imediato – um abraço do artista. Esse, por sua vez, declarou que a gentileza mútua era extensiva a todos os habitantes do Rio Grande do Sul e da Bahia.
Relembre
Transmitido na internet e gravado pelo Legislativo de Caxias do Sul durante sessão no dia 28 de fevereiro, o discurso do vereador Sandro Fantinel na tribuna do Legislativo de Caxias do Sul foi alvo de repúdio em todo o País. Motivo: ele criticava a repercussão negativa do caso envolvendo exploração de mão-de-obra em regime análogo ao de escravidão em uma empresa terceirizada por vinícolas de Bento Gonçalves durante a colheita da uva – a maioria das vítimas são trabalhadores oriundos da Bahia.
Nos minutos finais de sua fala, ele não apenas ofendeu os habitantes do Estado nordestino, como também defendeu a ideia de que os empresários da Serra Gaúcha não contratassem mais “aquela gente lá de cima” e ainda disse que argentinos deveriam ter preferência na contratação para trabalhos temporários porque são “mais limpos e corretos”.
Em um trecho da manifestação discriminatória, o parlamentar municipal chega a ironizar as condições degradantes encontradas no alojamento dos trabalhadores em Bento Gonçalves: “Mas essa gente quer o quê? Hotel cinco-estrelas?”. Dias depois, dizendo-se arrependido, ele lançaria mão de um argumento bastante comum nesse entre protagonistas desse tipo de situação: “Fui mal interpretado”.
Ele foi expulso do partido pelo qual se elegeu, o Patriotas, e agora enfrenta processo de cassação na Câmara Municipal. Também é alvo de investigação pela Polícia Civil.
(Marcello Campos)