Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de fevereiro de 2023
Em busca de protagonismo no campo da direita, governadores que pediram votos para o ex-presidente Jair Bolsonaro têm se equilibrado sobre condições quase inconciliáveis: aliam a busca por um tom moderado com acenos à extrema-direita em suas gestões.
Enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Cláudio Castro (PL-RJ) e Ratinho Jr. (PSD-PR) operam para ampliar o diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem romper com o bolsonarismo, Jorginho Melo (PL-SC) e Antonio Denarium (PP-RR) se aproximam de pautas da base ultraconservadora — e veem aliados flertarem, respectivamente, com o golpismo e o garimpo. Já Romeu Zema (Novo-MG) resgatou o antipetismo de sua eleição em 2018.
O que une os políticos desse campo é a defesa de uma agenda liberal na economia, que enfrenta resistência da gestão Lula. Tarcísio, Castro e Ratinho, por exemplo, articulam com o governo federal, nesta ordem, concessões no Porto de Santos, no aeroporto internacional Tom Jobim e no modelo dos pedágios do Paraná. Aliados admitem, portanto, que a dependência de verbas federais impõe dificuldades a uma oposição mais contundente.
Em São Paulo, Tarcísio procura trilhar um caminho próprio e imprimir estilo técnico, mas a relação com a base bolsonarista é considerada abalada. Ele foi criticado ao se encontrar com Lula em Brasília e por sancionar lei para acesso gratuito na rede pública do estado, pelo SUS, à canabis medicinal.
Antipetismo
Diferentemente de Tarcísio, que ainda pode ter um segundo mandato, o reeleito Zema é apontado na direita como um potencial sucessor de Bolsonaro em 2026, em caso de inelegibilidade do ex-presidente — ele enfrenta um cerco judicial desde os atos golpistas de 8 de janeiro. No mês passado, Zema condenou os ataques, mas sugeriu, sem provas, que Lula fez “vista grossa” diante do vandalismo para se vitimizar.
Se o entorno de Zema adota um tom institucional nas relações com o governo federal, o governador do Rio, Cláudio Castro, busca cada vez mais aproximação com Lula. Recentemente, num evento capitaneado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD), conversou ao pé do ouvido com o presidente. Ao discursar, pediu união ao petista.
Castro considerou migrar para o PP ou para siglas da base de Lula, como União Brasil e PSD. Por ora, desistiu, mas, segundo um integrante do governo, a tendência é que saia no futuro.
Radicais
Outros dois governadores transformaram suas gestões em trincheiras do bolsonarismo. É o caso do governador de Roraima, Antonio Denarium. Mesmo com a crise humanitária dos ianomâmis, ele não concorda com a responsabilização de garimpeiros e diz que trabalha para tirar a atividade da ilegalidade. No início do mês, parentes do governador foram alvo de busca da Polícia Federal por suspeita de envolvimento com garimpo.
Integrante ferrenho da tropa bolsonarista desde quando atuava como senador na CPI da Covid, o governador de Santa Catarina, Jorginho Melo, sancionou no dia 10 o projeto que institui o Escola Sem Partido. Educadores afirmam que a lei ataca a liberdade de cátedra do professor e pode criar um ambiente de perseguição em sala de aula.
Em outro gesto, Jorginho ofereceu assistência jurídica a catarinenses presos nos atos extremistas em Brasília. A medida lhe rendeu uma investigação do Ministério Público Federal do estado por suspeita de improbidade administrativa.
Sucessão
Para o cientista político Antonio Lavareda, o movimento político dos governadores bolsonaristas já aponta para as eleições de 2026:
“A variável que explica esse comportamento é a expectativa de alguns governadores (Tarcísio e Zema) de serem presidenciáveis. Eles acenam ao eleitorado bolsonarista, mas fazem um discreto voo ao centro para ampliar o eleitorado. Já Jorginho e Denarium estão em estados onde a votação de Bolsonaro foi absurda e querem manter esse eleitorado para reeleição ou para que façam eventual sucessor”.