Domingo, 10 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de agosto de 2025
O Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Relações Institucionais repudiaram as declarações do vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, contra o sistema judiciário brasileiro.
Número dois do órgão equivalente ao Itamaraty, Landau afirmou que “um único ministro do STF [Supremo Tribunal Federal] usurpou poder ditatorial ao ameaçar líderes dos outros poderes”.
Em nota, o Itamaraty classificou a manifestação como um ataque à soberania nacional. “Essa manifestação caracteriza novo ataque frontal à soberania brasileira e a uma democracia que recentemente derrotou uma tentativa de golpe de Estado e não se curvará a pressões, venham de onde vierem”, afirmou a pasta.
O ministério ressaltou que essa foi a segunda manifestação hostil de autoridades norte-americanas em três dias. “O governo brasileiro manifestou ontem [sexta-feira, 8] à embaixada dos Estados Unidos seu absoluto rechaço às reiteradas ingerências do governo norte-americano em assuntos internos do Brasil e voltará a fazê-lo sempre que for atacado com falsidades como as da postagem de hoje [sábado, 9], disseminadas pelo subsecretário de Estado, Christopher Landau”, completou.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também reagiu às declarações, chamando-as de “arrogantes” e “gravíssima ofensa”. Para ela, as insinuações de que o Judiciário interfere em outros Poderes não têm fundamento. “Quem tentou usurpar o poder em nosso país foi Jair Bolsonaro. Quem está tentando destruir a relação histórica entre os dois países é a família Bolsonaro estimulando Donald Trump, com o tarifaço e sua chantagem contra o Judiciário brasileiro”, escreveu nas redes sociais.
Gleisi afirmou ainda que o Brasil cumpre a Constituição e que os Poderes agiram de forma conjunta para barrar a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. “Executivo, Legislativo e Judiciário rechaçaram o golpe, a chantagem de Trump, o motim bolsonarista pela anistia e as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e outros ministros do STF”, disse.
Landau, sem citar diretamente Moraes, declarou que um juiz teria acumulado autoridade excessiva e “destruído a relação histórica de proximidade entre o Brasil e os Estados Unidos”. Segundo ele, “sempre é possível negociar com líderes dos Poderes Executivos ou Legislativos de um país, mas não com um juiz”. A mensagem, originalmente em inglês, foi republicada pela embaixada dos EUA em Brasília em português.
Na sexta-feira (8), o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada norte-americana no Brasil, Gabriel Escobar, para manifestar indignação com declarações recentes do Departamento de Estado. A conversa foi conduzida pelo secretário interino da Europa e América do Norte, embaixador Flavio Celio Goldman.
No dia anterior, a embaixada havia traduzido e divulgado comentários do secretário de diplomacia pública Darren Beattie, que ameaçavam autoridades do Judiciário brasileiro associadas a Moraes. Ele afirmou que “os aliados de Moraes no Judiciário e em outras esferas estão avisados para não apoiar nem facilitar a conduta de Moraes” e que o governo norte-americano está “monitorando a situação de perto”.
Os EUA mantêm sanções financeiras contra Moraes com base na Lei Magnitsky, alegando violações de direitos humanos e supostos casos de corrupção. O aumento de 50% nas tarifas sobre produtos brasileiros também foi justificado por Washington como reação à atuação do STF.
O governo de Donald Trump acusa Moraes e a Justiça brasileira de censura e perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, além de criticar decisões que determinaram a remoção de conteúdos e o bloqueio de redes sociais e plataformas digitais de empresas norte-americanas.