Domingo, 03 de agosto de 2025

Governo brasileiro reage com cautela à fala de Trump sobre possível conversa com Lula

A declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “pode falar comigo quando quiser”, foi recebida com cautela pelo governo brasileiro e não é vista como um sinal claro de reabertura de diálogo entre os dois líderes. A frase, dita na sexta-feira (1º) a jornalistas na Casa Branca, ocorre em meio a uma crise diplomática agravada por tarifas comerciais e sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

No Itamaraty, a avaliação é de que houve um gesto simbólico, mas ainda insuficiente para caracterizar um canal político efetivo entre Brasília e Washington. Diplomatas destacam que telefonemas entre chefes de Estado exigem articulação prévia, definição de pauta e alinhamento entre as equipes, o que ainda não ocorreu.

A relação entre Brasil e Estados Unidos se deteriorou nas últimas semanas após Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida foi justificada por Washington como reação a práticas do governo Lula que, segundo o presidente americano, prejudicariam empresas dos EUA e ameaçariam a liberdade de expressão. No mesmo dia, Moraes foi incluído em uma lista de sanções com base na Lei Magnitsky, usada para punir autoridades acusadas de violar direitos humanos.

O presidente Lula respondeu pela rede social X (antigo Twitter), afirmando que o Brasil está “sempre aberto ao diálogo”, mas que “quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições”. A mensagem foi interpretada como uma reafirmação de que o Planalto não aceitará interferências externas nos assuntos do STF. Integrantes do governo e aliados de Lula veem a fala de Trump com ceticismo. Acredita-se em Brasília que só haveria conversa direta após negociações diplomáticas bem estruturadas. Ainda assim, não se descarta a possibilidade de um telefonema entre os dois presidentes, desde que haja avanços prévios.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está prevista para a próxima semana uma reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, para tratar das tarifas. “Essa reunião é essencial para esclarecer os impactos da medida e retomar os canais de negociação”, afirmou Haddad. Ele também indicou que um eventual diálogo entre Lula e Trump dependerá dos resultados desse encontro. Além das tarifas, o governo brasileiro quer abordar as sanções a Moraes. O chefe da Fazenda disse que pretende explicar o funcionamento do sistema judiciário do país e contestar o que classificou como “desinformação”.

Lula vinha sendo pressionado por empresários a intervir diretamente nas negociações. Com a declaração de Trump, setores do empresariado passaram a defender uma atuação mais ativa do presidente brasileiro, temendo prejuízos econômicos e diplomáticos. Nos bastidores, diplomatas veem movimentações positivas, como o recente encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Washington. A conversa ocorreu no mesmo dia em que os EUA oficializaram a sobretaxa, mas com exceções a produtos como petróleo, minério de ferro e aviões, que respondem por cerca de 44,6% das exportações brasileiras.

Ainda não há previsão de um encontro presencial entre Lula e Trump. Para aliados do presidente, o risco de desgaste seria menor em uma conversa telefônica, fora das câmeras, ao contrário dos embates públicos que Trump já protagonizou com outros líderes, como Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul. Enquanto tenta reverter os efeitos do tarifaço no plano internacional, o governo também discute ações internas para mitigar impactos. No Ceará, por exemplo, o governador Elmano de Freitas e o ministro Haddad avaliam que o Estado e prefeituras possam adquirir alimentos afetados pelas tarifas para uso em programas sociais. As informações são da Joven Pan

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