Sexta-feira, 01 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 31 de julho de 2025
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prevê uma dura negociação com os Estados Unidos, mesmo após a flexibilização do tarifaço, que deixou de fora da sobretaxa de 50% quase 700 itens, entre os quais suco de laranja, petróleo e produtos da Embraer, como peças e aeronaves.
Segundo interlocutores que acompanham o impasse, essa percepção se deve à clara motivação política, reforçada repetidas vezes pelo presidente americano, Donald Trump.
Integrantes do governo Lula afirmam estar convencidos que Trump não demonstra disposição para negociar. Desde o anúncio, no último dia 9, seguido pela suspensão do visto do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, e outros magistrados, a crise só escalou. Com as novas sanções contra Moraes e a ordem executiva do tarifaço, ficou claro que o líder americano sempre dará a última palavra, mesmo sem embasamento técnico.
Com a abertura dos canais diplomáticos, como resultado de uma reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na terça-feira (29), os próximos passos do governo brasileiro começam a ser delineados hoje.
A ideia é fazer um esforço para que se obtenha um acordo que poupe os setores que serão atingidos pela sobretaxa a partir da próxima quarta-feira. São exemplos café, carne, frutas, calçados e pescados. Há temor de quebra de empresas e desemprego.
Pessoas envolvidas no assunto afirmam que o momento é de avaliar os impactos das medidas e as respostas a serem dadas pelo governo brasileiro. Por enquanto, não há reunião marcada entre negociadores dos dois países e o Brasil continuará insistindo no diálogo, para que os setores excluídos da lista de exceções não sejam prejudicados, ou tenham perdas minimizadas.
Nas palavras de um graduado diplomata, a situação requer tempo e conversa, e o objetivo é “continuar defendendo a democracia brasileira e os interesses afetados”.
Local discreto
Lula acompanhou todos os movimentos de bastidores que antecederam a conversa entre Vieira e Rubio. O chanceler, que estava desde segunda-feira (28), em Nova York, para uma reunião da ONU (Organização das Nações Unidas), e buscava contato com o chefe da diplomacia americana, tinha dois voos programados: uma na terça-feira à noite, saindo de Nova York para Brasília; e outro na quarta-feira, embarcando em Washington.
De acordo com auxiliares, Mauro Vieira se reuniu com Rubio momentos depois de anunciado o uso da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes. Antes do encontro, foi informado por membros de sua equipe que Trump assinaria um decreto estabelecendo a aplicação da sobretaxa em sete dias. Por isso, teve oportunidade de tocar no assunto na reunião e reclamar das duas medidas.
O local para o encontro entre os dois não foi revelado. Foi escolhido um lugar discreto, dada a delicadeza da situação. A conversa durou cerca de 25 minutos.
Conforme pessoas próximas ao ministro das Relações Exteriores, foi uma reunião não apenas entre os chefes da diplomacia dos dois países, mas também entre duas pessoas que já se conheciam. Vieira era embaixador do Brasil em Washington, de 2010 a 2015, e Rubio era senador. No entanto, só voltaram a conversar agora, oito meses após a posse de Trump.