Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de novembro de 2025
Durante painel temático no evento COP30, em Belém (PA), pesquisadores da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul apresentaram os estudos sobre o potencial da erva-mate como aliada no combate ao aquecimento global. Esse aspecto está associado à chamada “descarbonização” – a redução na emissão de gases causadores do efeito-estufa.
O engenheiro florestal do DDPA, Jackson Brilhante, mostrou que o sistema sombreado utilizado na produção de erva-mate é o que mais se aproxima da mata nativa, de acordo com os estudos que a Seapi tem desenvolvido:
“É um sistema que vai ter maior capacidade de adaptação às mudanças climáticas, porque tem maior reserva de nutrientes, maior taxa de infiltração de água no solo e consequentemente maior atividade biológica. Na pequena porção de solo analisada até agora neste estudo, estimativas indicam a presença de dezenas de bilhões de microrganismos, entre bactérias e fungos, convivendo com as raízes da erva-mate”.
O meteorologista da Seapi, Flávio Varone, contribuiu com dados de estações meteorológicas, comparando as que estão no sistema sombreado com as que estão no sistema pleno sol: “O sistema sombreado proporciona um resultado melhor para a planta, registrando temperaturas mais baixas durante o verão e mínimas mais altas durante o inverno, o que favorece o conforto da planta”.
Certificação
A diretora de Biodiversidade da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Cátia Viviane Gonçalves, apresentou o “Selo de Manejo Certificado” entregue pela Sema como instrumento de reconhecimento e valorização das práticas sustentáveis desenvolvidas no Rio Grande do Sul.
Atualmente, há 97 propriedades certificadas que cultivam erva-mate entre suas espécies nativas, demonstrando que é possível conciliar produção econômica com conservação ambiental. Cátia frisou:
“O selo garante segurança jurídica, rastreabilidade e credibilidade ao manejo da flora nativa, fortalecendo o compromisso dos produtores com o uso sustentável dos recursos florestais e estimulando novos modelos de economia verde no Estado”.
Já o gerente de classificação e certificação da Emater/RS-Ascar, Mateus Rocha, explicou como funciona o selo de certificação da erva-mate emitido pela empresa. Atualmente, seis ervateiras participam do programa:
“Realizamos o acompanhamento de todo o processo, desde a lavoura até a gôndola, por meio de auditorias, para fazer as orientações e adaptações devidas. O selo fica impresso nas embalagens de erva-mate, garantindo a segurança do produto que chega até o consumidor”.
Potencial de expansão
A representante da Embrapa Florestas do Paraná, Josileia Zanatta, falou sobre o potencial de crescimento que a erva-mate tem para o desenvolvimento de novos produtos destinados às indústrias farmacêutica, alimentícia e de cosméticos:
“Também desenvolvemos pesquisas sobre melhoramento genético (produtividade e controle de pragas), sistemas de produção e testes de novos produtos, como a ferramenta Carbon Matte, desenvolvida em parceria com a Fundação Solidaridad”.
O diretor de país da Fundação Solidaridad, Rodrigo Castro, destacou as vantagens do cultivo da planta nativa da América do Sul: “A erva-mate oferece múltiplos benefícios ao produtor, floresta e clima, além da implantação de sistemas agroflorestais que representam uma solução baseada na natureza muito eficiente”, afirmou.
Por fim, a presidente da Associação de Produtores e Parceiros da Erva-Mate do Alto Taquari (Appemat), Ariane Maia, mostrou o processo desenvolvido pela associação para entrar com pedido de uma Indicação Geográfica (IG) da Erva-Mate do Alto Taquari. A solicitação está em fase de encaminhamento pela associação e contou com estudos do DDPA/Seapi.
“Temos uma identidade singular que apresenta características químicas e sensoriais únicas, resultantes da integração entre solo, clima, manejo e processo industrial”, salientou Ariane.
(Marcello Campos)