Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 7 de janeiro de 2023
Em algumas cerimônias de posse dos novos ministros nesta semana, integrantes do governo Lula usaram o termo “todes”, da linguagem não binária, também denominada linguagem neutra. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi um deles. Começou seu discurso com a frase: “Boa tarde a todas, a todos e a todes”.
A utilização do pronome neutro também ocorreu nas cerimônias dos ministérios de Direitos Humanos e da Cidadania, da Cultura, da Mulher, e das secretarias Geral da Presidência e de Relações Institucionais. O termo “todes” também foi utilizado pela primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, na cerimônia de transmissão de cargo da ministra da Cultura, Margareth Menezes.
O uso de uma expressão que não abarca nem o gênero masculino e feminino busca atingir pessoas trans e não-binárias e retirar a predominância do gênero masculino da língua portuguesa. Um exemplo comumente usado é como se referir a um ambiente composto por nove mulheres e um homem: usa-se “todos” e não “todas”. O uso de “todes” buscar aglomerar todos os gêneros, de forma neutra — algo que acontece em outros idiomas, mas que não está previsto na gramática normativa do português.
Repercussão
O termo “todes” figurou no trending topics do Twitter esta semana, devido ao uso nas cerimônias de posse dos ministros do novo governo. Enquanto muitos criticavam o uso do termo, e utilizando a linguagem neutra para ironizar a pauta, a sinalização de inclusão foi vista como positiva pela comunidade LGBTQIAPN .
Gregory Rodrigues, Coordenador Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI , afirma que é necessário compreender que todas as demandas presentes na sociedade precisam ser avaliadas para serem entendidas.
“A língua portuguesa é viva, e precisa ser inclusiva de modo a abraçar todas as pessoas. Esta atitude do novo governo, ao meu ver, busca trazer luz sobre um debate há muito silenciado, demostrando preocupação com a diversidade existente na sociedade brasileira”, afirma Gregory.
A utilização do pronome neutro foi duramente criticada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, juntamente com o que foi chamado de “ideologia de gênero”. “Uma parte da garotada nem sabe português e quer a linguagem neutra. É impressionante. Antes de explicar o pronome neutro pergunta se sabe a diferença do pronome pessoal do caso reto, do caso oblíquo”, disse.
Histórico
O primeiro país onde se usou a linguagem neutra por pessoas não binárias, que não se sentem confortáveis sendo tratadas no masculino ou feminino, foi a Suécia. Na língua sueca existe palavra “Hen”, que pode ser usada para descrever qualquer pessoa, independente do sexo ou gênero.
Desde então, movimentos LGBTQIAPN de outros países começaram a adotar a linguagem neutra também. É o caso dos Estados Unidos, onde pessoas não binárias utilizam o pronome plural “They”, uma vez que não há identificação de gênero no termo. Além disso, na língua inglesa não há definição de gênero para objetos ou adjetivos, ou seja, grande parte da língua naturalmente neutra.
Setor privado
O fenômeno também acontece no setor privado. A Braskem lançou em 2018 um guia de “comunicação inclusiva” para melhorar o relacionamento entre funcionários no ambiente de trabalho. Para falar com pessoas de gêneros “não-binários”, o guia recomenda o uso dos artigos “x/ile/dile”, ao invés de “a/ela/dela” ou “o/ele/dele”. “Respeite sempre o nome social das pessoas trans e nunca pergunte ‘qual o seu nome ‘verdadeiro’? Isso é indelicado e causa um constrangimento desnecessário”, recomenda.
O material também, por exemplo, orienta os funcionários a evitarem expressões como “homossexualismo” (o sufixo “ismo” indica doença) e “opção sexual” e a utilizarem, por outro lado, os termos “homossexualidade” e “orientação sexual”.