Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de julho de 2025
O governo espera aprofundar o diagnóstico de impacto ao Brasil do tarifaço anunciado por Donald Trump após as reuniões com empresários, previstas para esta terça-feira (15), em Brasília. Não se espera que o grupo debata possíveis caminhos para retaliação.
Com o encontro, o time de Luiz Inácio Lula da Silva deseja ampliar o entendimento sobre o tamanho do prejuízo que se avizinha caso a ameaça de taxar produtos brasileiros em 50% se concretize e, a partir disso, municiar seu time diplomático para a negociação tarifária. O Palácio do Planalto, porém, espera que haja exceções à taxação, com alguns setores sendo poupados da tarifa cheia anunciada quando a medida for de fato oficializada.
Enquanto a ordem executiva de Trump não é publicada, a ideia é que o comitê com empresários possa, de forma emergencial, acelerar o trabalho de análise para calibrar o tom da resposta brasileira. Apesar de já ter um diagnóstico inicial sobre os prováveis prejuízos, o governo entende que apenas a consulta aos setores produtivos permitirá o diagnóstico com segurança dos reflexos do tarifaço à economia.
Além disso, os empresários poderão dizer com propriedade qual limite de taxação suportam e qual percentual da produção poderá de fato ser redirecionada. Isso fará com que o governo possa ter balizas mais concretas para a negociação sobre tarifas, que espera conseguir inaugurar em breve.
A resposta brasileira, no entanto, tem de ser pensada de forma global, enfatiza um integrante do governo. Indicar onde os Estados Unidos podem sofrer é parte importante da estratégia de defesa brasileira, mas trata-se de um movimento que tem de ser bem calibrado para não ferir ainda mais a economia neste momento de crise, na visão do time de Lula.
Uma das preocupações é não contribuir para pressionar a inflação, já que o Brasil é deficitário na relação comercial com os Estados Unidos e importa de lá uma grande variedade de insumos.
Estão previstas duas reuniões do governo federal nesta terça: uma com empresários da indústria e outra com o agronegócio.
A aproximação com o empresariado é, de certa forma, uma continuidade do trabalho feito quando Trump decidiu anunciar a taxação de 10% sobre as mercadorias brasileiras, em abril, mas com “muito mais urgência”, explica um auxiliar presidencial. Por isso, o modelo de comitê, no qual setor privado e ministros irão se reunir para debater o tema, mostrou-se necessário agora.
Corrida
Passado o espanto inicial com a postura adotada por Trump de taxar o Brasil muito acima de outros parceiros comerciais, o sentimento é de corrida contra o tempo dentro do governo e de grande expectativa para a publicação do detalhamento da medida.
A ordem executiva, que irá especificar a sobretaxa, pode trazer surpresas. Ainda que a primeira mensagem do presidente americano tenha sido de impor uma tarifa horizontal aos produtos brasileiros, o governo vê espaço para que haja nuances nesta ação.
Há expectativa, por exemplo, de que alguns setores possam ficar de fora ou com tarifa reduzida para que não haja grande prejuízo à economia americana. Este seria o caso das exportações brasileiras de petróleo. Não se tem tanta esperança, no entanto, de que outras commodities sejam poupadas, como café, suco de laranja e carne bovina, segmentos também muito dependentes do mercado dos Estados Unidos.
Por isso, o Planalto avalia que o diagnóstico sobre a resposta brasileira só poderá ser fechado quando a ordem executiva for publicada, o que deve ocorrer mais próximo do fim deste mês. Trump prometeu o início da sobretaxa aos bens brasileiros para o mês de agosto.
O próprio presidente Lula deve engrossar as rodadas de conversa com empresários e entrar em campo para estreitar a relação com os setor produtivo. Isso só ocorrerá, porém, num segundo momento.
O trabalho inicial de mapeamento será feito pelos ministros, sob a coordenação do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
A entrada de Lula no circuito é vista como importante para contribuir com a mensagem de que o governo está aberto para o diálogo e para a negociação, desde que ela se restrinja a tarifas. Não há intenção do governo de colocar sobre a mesa qualquer condição que envolva exceções ao trabalho do Judiciário, como gostaria Trump. Em carta, o presidente americano chamou de “caça às bruxas” o processo que mira o ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF). (Com informações do blog de Renata Agostini, do jornal O Globo)