Terça-feira, 07 de outubro de 2025

Governo Lula teme indicação de “linha dura” Marco Rubio

No meio da comemoração geral no governo brasileiro pela realização de um telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, um elemento gerou apreensão em Brasília: a indicação de Marco Rubio como interlocutor do lado americano.

Secretário de Estado americano e conselheiro de Segurança Nacional na Casa Branca, Marco Rubio é visto no governo Lula como um “linha dura” em temas relativos aos regimes de esquerda da América Latina.

O nome dele chamou a atenção e despertou reservas, mas não foi nem será bombardeado publicamente, para não gerar qualquer tipo de ruído nas conversas recém abertas.

Nessa segunda-feira (6), em entrevista à TV Mirante, Lula disse que pediu a Trump que Rubio converse com o Brasil “sem preconceitos”. O petista disse ainda que, em entrevistas, Rubio mostrou “certo desconhecimento” sobre o País.

O telefonema foi apenas a segunda interação entre Lula e Trump. No último dia 23 de setembro, os dois se encontraram em Assembleia Geral da ONU.

O contato direto em nível presidencial elevou o patamar das negociações, mas foi precedido de reuniões secretas de emissários, como revelou o Estadão.

Rubio fez uma delas, em 30 de julho, com o chanceler Mauro Vieira em Washington. Ele jamais a citou em público, embora Vieira tenha feito um relato contundente do teor.

Eles se conhecem há anos. O ministro serviu como embaixador na capital americana e depois viajou para lá como chanceler. Rubio era membro sênior da Comissão de Relações Exteriores no Senado.

Desde a conversa em julho, os dois mantiveram contatos privados, por meio de trocas de mensagens. Um dos prováveis próximos passos será nova reunião entre ambos, a fim de preparar o encontro presencial que Lula e Trump manifestaram desejo de fazer em breve.

Embora ainda não tenha sido marcada, não se descarta no Itamaraty que o ministro Mauro Vieira possa viajar antes aos EUA para uma reunião preparatória com Rubio.

Por enquanto, o chanceler tem na agenda ministerial apenas os deslocamentos ao exterior para acompanhar Lula em Roma (Itália), Jacarta (Indonésia) e Kuala Lumpur (Malásia). O cenário de uma reunião bilateral na Ásia é um dos mais cotados.

Trump indicou Rubio nessa segunda-feira como seu emissário para o Palácio do Planalto e o Itamaraty. Era um passo que faltava. A diplomacia brasileira se queixava de que Trump não havia ainda apontado nenhum de seus secretários ou assessores diretos como o responsável por discutir a relação com o País e preparar uma reunião de trabalho entre presidentes. O diálogo estava dificultado.

Indagado sobre a escolha de Rubio, Alckmin disse apenas: “vamos em frente”. Já o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Lula, disse que a indicação “não preocupa”.

Se em público conselheiros próximos do petista evitaram críticas e minimizaram a preocupação, em privado integrantes do governo torcem o nariz para Rubio, dizem que ele tem uma “agenda retrógrada” e uma pauta “negativa” para a região.

A relação com ele já era vista como desafiante, pelo fato de Rubio lidar e se relacionar mais com líderes políticos da direita latino-americana do que com governantes de esquerda, estejam no poder ou não.

O emissário de Trump é alguém que integrantes do Palácio do Planalto veem como mais suscetível aos pleitos do lobby bolsonarista, historicamente crítico ao presidente Lula e até mais disposto a derrubar governos ditatoriais na América Latina.

Político conservador, filho de imigrantes cubanos, Rubio tem base eleitoral e política na Flórida, onde se elegeu senador e tem uma base de expatriados da Venezuela, Cuba, Nicarágua, entre outros.

Ele abrigou figuras do movimento MAGA (Make America Great Again) em postos-chave do Departamento de Estado. E, nos últimos meses, esteve na linha de frente das decisões de punição ao Brasil. Manteve semblante fechado ao reagir à revelação de Trump sobre a “excelente química” no encontro de 39 segundos com Lula nas Nações Unidas.

Rubio fazia comentários públicos ameaçadores e prometia reações à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem se reunira no passado. Saíram do Departamento de Estado as ordens de cassar vistos a ministros do Supremo e do Executivo e impor restrições de locomoção ao ministro Alexandre Padilha caso viajasse aos EUA e a assessores de menor escalão da Presidência, que participaram da Assembleia Geral da ONU.

Ciente do perfil e do passado de Rubio, o governo Lula evitar “pré-julgar” a escolha e o futuro comportamento dele daqui para frente. Embaixadores esperam que Rubio não faça nada da própria cabeça e cumpra instruções do chefe e atue de forma profissional e pragmática. (Com informações de O Estado de S. Paulo)

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