Domingo, 09 de novembro de 2025

Grupo que resgatou armas em vez de crianças na enchente do ano passado processa empresa de artefatos bélicos

Um grupo de voluntários que ajudava nos resgates durante as enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado, entrou na Justiça contra a empresa Taurus pedindo indenização de mais de um R$ 1,2 milhão. Eles relatam que foram chamados para salvar crianças no Aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre, que ficou inundado, e acabaram resgatando uma carga de armamentos.

Os seis voluntários pedem, juntos, uma indenização de R$ 1.270.800 da Taurus por danos morais. Eles alegam no processo que foram enganados, coagidos e constrangidos na ação, que tirou 3 mil artefatos bélicos de dentro do aeroporto. Eles alegam que foram chamados para salvar crianças ilhadas e acabaram tendo que transportar armas. O processo acusa a Taurus de mentir sobre a missão e dizem que faltou “lealdade, informação e assistência” no episódio.

Os voluntários dizem que foram expostos a um alto risco. Eles alegam que não tiveram treinamento adequado e nem receberam equipamentos de segurança, como coletes a prova de balas, para carregar o arsenal.

A Taurus Armas S.A. nega que tenha recrutado voluntários civis. A empresa diz que não tem qualquer responsabilidade sobre a operação e que as armas estavam em processo de exportação. A custódia seria, por isso, da Fraport, administradora do aeroporto. Ela alega que a responsabilidade da segurança do armamento seria da Polícia Federal. A Taurus afirma que contratou empresas terceirizadas especializadas para o resgate, que todos os envolvidos estavam sendo escoltados e que, por isso, não estariam em risco.

A União também foi processada, porque agentes da PF atuaram no resgate. O processo diz que esses agentes sabiam que eram civis despreparados e foram omissos ao permitirem que fizessem o transporte do armamento sem escolta adequada. O UOL apurou, à época, que a PF não conferiu o documento dos voluntários.

Portanto, pessoas estranhas tiveram acesso e ficaram a sós com as armas mesmo com o risco da operação. A Advocacia-Geral da União (AGU) nega que a União tenha responsabilidade e disse que já se apresentou nos autos, apontando que qualquer irregularidade é responsabilidade da Taurus.

“A União, que tinha o dever de proteger a área do terminal aeroviário evitando saques, não seria a responsável pelo transporte dos materiais ou armazenamento dos mesmos em outro local”, diz.

O grupo alega ainda que suas imagens foram veiculadas no ‘Fantástico’ de forma indevida. Em reportagem exibida pela TV Globo, todos eles foram identificados como agentes da Polícia Federal, por isso também pedem indenização.

“Constrangidos pelos prepostos da Taurus S/A, foram expostos a essa circunstância delicadíssima, e, na prática, organizaram toda a logística envolvendo o transporte das armas para fora do aeroporto, enquanto os funcionários da empresa Taurus S/A e agentes da Polícia Federal apenas assistiam”, diz o processo.

O processo pede a atuação do Ministério Público Federal no caso, por se tratar de um assunto de interesse público e social. Para os advogados, o resgate de armas por civis é um problema de segurança pública e nacional.

A ação aguarda manifestação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre. Indenização requerida é de, no mínimo, 150 salários mínimos para cada um dos seis voluntários. Somadas e aplicadas correções, o valor é, ao todo, de R$ 1.270.800. A defesa dos voluntários disse que “o dano moral não é fácil de quantificar. É inestimável. Nós levamos em conta a forma que eles foram chamados e a forma que foram enganados”.

O grupo de voluntários surfistas atuava há cerca de dez dias em resgates de vítimas e animais por ter conhecimento em água e embarcações. A informação foi dada por Nicolas Vedovatto, um dos voluntários. A equipe reuniu barcos, apetrechos e até brinquedos para o resgate.

Eles foram abordados por um homem, identificado como Michel Rodrigues, pelo WhatsApp. Rodrigues disse que tinha recebido um pedido de socorro de uma pessoa que sabia da localização de cem crianças ilhadas. A localização não poderia ser exposta para não gerar uma espécie de engarrafamento de barcos. “Tudo sigiloso”, disse.

Suposto intermediador alega que também é vítima. Rodrigues disse que também foi convocado para auxiliar na busca de crianças e aponta um homem chamado Leonardo Godoy como o líder da operação. Godoy, que se apresentava como empresário nas redes sociais, disse que estava na linha de frente de diversos resgates no Estado. Segundo os voluntários, Godoy se colocou como chefe da operação de resgate e pediu barcos ao grupo.

“Eu fui coagido, todos nós fomos enganados. A gente participava daqueles grupos ali de resgate (…) Mas o sorriso dos meninos (voluntários) nos vídeos do aeroporto mostra que eles não foram forçados”, disse Michel Rodrigues, suposto intermediador.

As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

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