Sexta-feira, 07 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 27 de julho de 2025
Desde que o presidente americano, Donald Trump, anunciou em 9 de julho que imporia uma tarifa de 50% sobre todos os produtos comprados do Brasil, o empresariado nacional tem vivido dias conturbados. A nova taxa está prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, próxima sexta-feira. Por isso mesmo, os empresários vêm intensificando suas movimentações em busca de saídas para a situação. Mas, até agora, não há sinais vindos dos Estados Unidos de que as conversas tenham tido algum efeito.
O cenário se tornou um pouco mais complicada pelo caráter mais político do que comercial que o próprio Trump deu ao “tarifaço”. Nas falas do presidente americano, o argumento principal para a imposição da sobretaxa é o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, que ele considera uma “caça às bruxas”. Tecnicamente falando, as tarifas nem fariam muito sentido, uma vez que a balança comercial entre os dois países é há tempos favorável aos americanos.
Por isso mesmo, os caminhos mais convencionais de conversa, via governo, têm surtido pouco efeito até o momento. E o que boa parte das empresas brasileiras tem tentado fazer é buscar o apoio de seus parceiros americanos, que importam os produtos brasileiros, para que a pressão seja feita em solo americano, pelas empresas de lá. O argumento, nesse caso, seriam as perdas que os consumidores americanos teriam com o encarecimento de produtos importantes no dia a dia, como o café ou o suco de laranja — produtos nos quais o Brasil tem uma participação muito importante no mercado americano. É uma espécie de “terceirização da pressão”.
É isso que tem feito, por exemplo, o setor de laranja. “O produto brasileiro é muito importante para as empresas americanas”, disse Ibiapaba Netto, diretor executivo da associação CitrusBR. “Eles têm grande interesse em que o problema seja resolvido e cada uma delas está procurando sua forma de levar a demanda a quem de direito, sem que pareça uma afronta ao governo.” A CitruBR reúne as principais empresas produtoras e exportadoras brasileiros de sucos cítricos: Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company.
Quase 60% do suco de laranja presente em todas as garrafinhas consumidas nos EUA sai do Brasil. Na safra 2024/2025, o País enviou 306 mil toneladas — ou 85 milhões de caixas — do insumo aos EUA, que equivalem a nada menos do que 70% das importações do produto feitas por aquele país. Na sequência, o México responde por 22%, a Costa Rica por 3% e outros países por 1%, segundo a CitrusBR.
Mesmo com todo esse poder, os exportadores brasileiros — e seus clientes — têm se mantido discretos nesse momento. Negociações estão em curso em diferentes frentes, mas a ideia é evitar posicionamentos públicos que soem como atos de hostilidade ao governo Trump. “Todos têm o mesmo interesse, mas as companhias americanas têm mais condições de levar adiante essa prerrogativa”, disse Netto.
Apesar de as discussões estarem sendo feitas nos bastidores, já houve manifestações públicas de empresas nos EUA contra a tarifa. As importadoras de suco de laranja Johanna Foods e Johanna Beverage Company entraram com um pedido de alívio emergencial junto ao Tribunal de Comércio Internacional (CIT, na sigla em inglês) dos Estados Unidos contra a tarifa de 50% ao Brasil.
No caso do café, um dos principais produtos vendidos pelo Brasil aos EUA, entidades que representam os exportadores têm tratando diretamente do tema com a National Coffee Association (NCA). O diálogo vem sendo conduzido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) com a NCA. A entidade americana, por sua vez, já acionou o governo dos EUA.
“76% dos americanos consomem café. Além disso, a indústria do café gera 2,2 milhões de empregos e US$ 343 bilhões na economia americana. Por isso, o pedido que será levado pela indústria americana é para que o café entre em lista de exceção à tarifa”, relatou uma liderança do setor nacional quanto aos argumentos utilizados nos Estados Unidos, maior consumidor da bebida no mundo. As informações são do portal Estadão.