Sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Hérnia inguinal bilateral: entenda a condição que afeta Bolsonaro

A perícia médica realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística que analisou a situação médica de Jair Bolsonaro (PL) concluiu que o ex-presidente tem hérnia inguinal bilateral e necessita de cirurgia para tratamento. A hérnia inguinal (também chamada hérnia na virilha) acontece quando os tecidos do interior do abdómen saem por um ponto fraco da parede muscular abdominal formando uma espécie abaulamento no local. Quando isso ocorre dos dois lados, ela é chamada de bilateral.

A hérnia inguinal bilateral pode causar inchaço, dor ou desconforto, especialmente ao fazer esforço, tossir ou ficar muito tempo em pé — embora às vezes seja assintomática. Apesar do quadro, os peritos afirmaram que não há em nenhum relatório médico a indicação de necessidade de realização da cirurgia em urgência ou emergência.

Os peritos também analisaram o quadro de soluços de Bolsonaro, uma das principais queixas de saúde do ex-presidente, e avaliaram que o bloqueio do nervo frênico é uma medida tecnicamente adequada e deve ser feito o quanto antes.

Bloqueio do nervo frênico é um procedimento que reduz temporariamente a atividade do nervo que controla o diafragma, ajudando a interromper soluços persistentes. Ele é feito com anestesia local, por meio da aplicação de um medicamento próximo ao nervo, geralmente guiada por ultrassom. É indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos comuns e causam impacto clínico relevante.

“O que, exatamente, é uma hérnia? É um defeito na parede abdominal. Esse defeito pode existir desde o nascimento, em pessoas que já têm uma fraqueza natural na região, ou pode surgir ao longo da vida, especialmente depois de uma cirurgia abdominal, principalmente quando feita às pressas, em caráter de urgência”, explica Pedro Bertevello, cirurgião do aparelho digestivo da BP.

A hérnia inguinal unilateral acontece quando uma parte do intestino encontra uma abertura ou enfraquecimento na parede abdominal da virilha e começa a se projetar para fora. O médico Ricardo Katayose, cirurgião cardiovascular da BP, explicou que, para entender isso, é preciso imaginar como essa parede abdominal da virilha é construída.

O médico explica que o abdômen não é um espaço vazio: ele é formado por camadas sobre camadas — primeiro a pele, depois a gordura, em seguida a musculatura, e logo abaixo uma membrana rígida chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para proteger as vísceras.

Atrás dessa camada de tecido existe o peritônio, uma película fina e lubrificada que reveste a parte interna do abdômen e permite que o intestino se mova livremente, sem atrito. Isso é essencial porque o intestino está sempre em movimento para empurrar os alimentos durante a digestão, e até ações simples do dia a dia — como caminhar, respirar ou mudar de posição — ajudam esse funcionamento natural.

O problema começa quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias anteriores, seja por traumas. Toda vez que uma intervenção atravessa essas camadas, o corpo forma cicatrizes internas, chamadas aderências. Elas podem fazer com que uma alça do intestino “grude” na outra ou se cole à parede abdominal.
Essas aderências podem alterar o trânsito intestinal e, com o tempo, enfraquecer a aponeurose. Como essa membrana é uma das principais estruturas que limitam o espaço onde o intestino deve ficar, qualquer perda de resistência ali facilita que ele avance para fora.

No caso das hérnias, é exatamente isso que acontece. O intestino procura qualquer brecha e ocupa aquele espaço. Às vezes, ele entra, mas não consegue sair — é o chamado encarceramento. É como se a alça passasse por um anel apertado: ela escapa, mas depois fica presa, incapaz de retornar à cavidade abdominal. Na hérnia inguinal, essa projeção acontece no assoalho pélvico e pode até descer em direção ao escroto.

Quando o abdômen já foi muito manipulado, como no caso do ex-presidente, as aderências e as fibroses tornam a região mais rígida e irregular. Isso dificulta tanto a circulação normal do intestino quanto sua acomodação dentro da cavidade, o que pode contribuir para sintomas como soluços persistentes.

O sistema digestivo funciona como um tubo contínuo — da boca ao ânus — e qualquer prejuízo no trânsito intestinal pode gerar reflexos a distância, inclusive na região do diafragma, onde o soluço é desencadeado.

 

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