Sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Homem na China vive mais de 170 dias após 1º transplante de fígado de porco

Médicos na China relatam ter transplantado um fígado de porco geneticamente modificado em um homem de 71 anos que viveu 171 dias após o procedimento, sendo 38 desses dias com o órgão suíno – sendo este o primeiro caso publicado em uma revista científica revisada por pares.

Cientistas já obtiveram sucessos iniciais no transplante de rins e corações de porcos geneticamente modificados em humanos, e fígados de porcos já foram transplantados em pessoas com morte cerebral. No entanto, especialistas em xenotransplante – uso de órgãos de animais em pessoas – demonstravam preocupações sobre se o fígado seria um bom candidato para tal procedimento.

“Todo mundo sempre diz que o fígado é muito complicado para transplantar, em comparação com o coração ou rim, mas depois disso, no futuro, acho que as pessoas pensarão diferente. Acredito que o fígado é viável se conseguirmos inserir genes humanos suficientes no porco”, afirmou o Dr. Beicheng Sun, presidente do Primeiro Hospital Afiliado da Universidade Médica de Anhui e coautor do novo estudo.

Diferentemente dos corações e rins que têm funções mais específicas, o fígado é mais complexo para ser substituído por um órgão suíno porque é grande, possui duplo suprimento sanguíneo e múltiplas funções. O fígado filtra o sangue, remove toxinas e resíduos, processa nutrientes, desintoxica substâncias nocivas como álcool e medicamentos, produz bile para auxiliar na digestão, produz proteínas que ajudam na coagulação do sangue e desempenha um papel importante na regulação do açúcar no sangue.

No ano passado, médicos da Penn Medicine realizaram a primeira perfusão hepática externa bem-sucedida do mundo usando um órgão de porco geneticamente editado. O sangue de um paciente com morte cerebral circulou através de um fígado de porco fora do corpo da pessoa. Nesse caso, o fígado suíno não apresentou sinais de inflamação durante as 72 horas de teste, e o corpo do paciente permaneceu estável.

Um fígado de porco transplantado em um paciente com morte cerebral na China em março de 2024 foi removido a pedido da família 10 dias após a cirurgia. Não houve sinais de rejeição imunológica ou acúmulo de inflamação.

Especialistas afirmam que o novo estudo, publicado na quinta-feira no Journal of Hepatology, sugere que o transplante de fígado de porco para humano mostra-se promissor como uma ponte para ajudar pacientes com condições hepáticas graves a sobreviverem até que seu próprio fígado se recupere ou até que um fígado humano doador esteja disponível.

“No futuro, talvez o lado esquerdo possa ter uma chance real de regeneração e, nesse caso, removeríamos o enxerto, o que seria suficiente para manter a vida, ou pelo menos sabemos que podemos esperar um ou dois meses por um enxerto de um humano que poderia salvar sua vida. Acredito que esta é uma descoberta muito importante”, disse Sun.

Com mais de 100 mil pessoas em listas de espera para transplante de órgãos apenas nos Estados Unidos e mais de 9 mil aguardando transplante de fígado, a demanda por órgãos humanos supera em muito a oferta. O fígado é o segundo órgão mais necessitado, depois dos rins, segundo a Administração de Recursos e Serviços de Saúde dos EUA. Cientistas têm explorado alternativas há décadas, incluindo o uso de órgãos de porcos devido à sua semelhança com órgãos humanos.

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