Domingo, 01 de junho de 2025

“Homens com depressão chegam menos aos consultórios, buscam menos ajuda e mais tardiamente”, alerta psiquiatra

Embora seja cada vez mais tratada abertamente, a depressão ainda é cercada por conceitos errôneos, que vão do estigma à glamourização nas redes sociais.

Alguns grupos são ainda mais afetados por certos preconceitos, como os homens, os adolescentes e os idosos, preocupando especialistas. O psiquiatra Luiz Zoldan, gerente médico do Espaço Einstein de Saúde Mental e Bem-Estar, explica um pouco mais sobre como a doença é vivida tanto social quanto individualmente.

* Hoje já se fala da depressão de forma mais aberta. O senhor acredita que a doença está deixando de ser um tabu?

Não há dados que messam estigma populacional pós-pandemia, mas temos uma impressão subjetiva de que sim, há uma redução do estigma relacionado principalmente à depressão e à ansiedade, o que não parece ter acontecido com outros transtornos psiquiátricos, como o transtorno de personalidade borderline, bipolaridade, por exemplo. Acreditávamos que o legado da pandemia seria essa conversa mais aberta sobre saúde mental, que vem de fato acontecendo. Entretanto, a ainda percebemos, principalmente em locais como, por exemplo, o próprio mercado corporativo, que a principal barreira ao tratamento ainda é o estigma. Hoje as pessoas falam muito mais sobre o outro que teve a depressão, aquele colega que teve a depressão, mas falar sobre si, sobre os seus problemas, ainda parece um desafio, e ainda traz um prejuízo à busca pelo tratamento, porque esse é, no final, o principal problema do preconceito.

* Esse preconceito às vezes está dentro do paciente mesmo, certo?

Há dois tipos de estigma: o social, que é como a sociedade enxerga, muitas vezes vendo a doença como falha de caráter, e o estigma internalizado, que é a forma como o indivíduo enxerga a doença. E esse estigma internalizado, que decorre do social, é um dos principais fatores que impede que a pessoa busque ajuda, porque acaba negando a doença. Então isso é um problema.

* Há uma certa banalização? Uma “brincadeira” de dizer que está em depressão?

Tem tanto uma banalização quanto também, num outro aspecto, uma glamourização, a espetacularização disso nas redes sociais. Gente tratando a depressão como se fosse o pior dos problemas do mundo e “nossa, eu superei”. Calma, né? Ninguém fala de quebrar o braço assim. A depressão pode ser muito grave, mas pode ser uma depressão leve, facilmente tratada e curada. A desinformação causada pelas redes sociais, tanto relacionada à banalização quanto à espetacularização também afetam as pessoas e o tratamento.

* Um assunto que está em alta hoje é a depressão nos homens. O estigma é ainda maior entre eles?

Sim, nos homens, o estigma é ainda maior. E isso é bastante comprovado e corroborado por literatura científica. O que acontece? As mulheres já têm uma tradição maior de autocuidado e de falar sobre sentimentos. É mais aceito também socialmente que a mulher fale sobre as suas emoções. O que, de fato, não acontece tanto com os homens. Ele tem que ser forte, tem que dar conta, tem que ser o arrimo. Apesar de a nossa sociedade estar mudando isso ainda faz com que o homem acabe sendo mais vítima deste estigma social. Porque ele carrega aí uma marca, uma imagem de que tem que dar conta e de que não pode adoecer.

* Quais as consequências disso na prática?

As mulheres têm mais tentativas de suicídio, mas os homens têm mais suicídios efetivados. Eles tentam com mais agressividade e com mecanismos mais letais, muitas vezes, de forma mais agressiva e impulsiva. O que também, aparentemente, é algo característico da biologia masculina. Então, essa coisa de saúde mental ou depressão como fraqueza de caráter pega, sim, mais para o homem. Eles chegam menos aos consultórios, buscam menos ajuda e mais tardiamente. Por isso, também, essa gravidade maior dos casos nos homens. O que não significa que as mulheres não sejam mais submetidas do que os homens a uma sobrecarga mental, claro, enfrentando dupla, tripla rotina, machismo estrutural, fazendo com que tenham mais estresse para lidar.

* A depressão acontece de forma diferente para os homens?

Tem uma questão de características biológicas distintas. Na mulher, os sintomas se confundem muito com questões relacionadas a ciclo menstrual, menopausa, disforia pré-menstrual, o que não acontece nos homens. Os homens chegam muito mais com queixas como falta de energia, cansaço. Enquanto as mulheres chegam mais com tristeza, choro, eles vêm por essa via do cansaço, do esgotamento. O homem não pode dizer que está triste, porque o homem não pode dizer que tem sentimentos negativos. É mais tolerável dizer que está exausto, que não aguenta mais. (Com informações do jornal O Globo)

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