Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de julho de 2025
Com água até os joelhos, o pescador Hassan Kargbo, 35 anos, aponta para a imensidão do oceano à sua frente, em Serra Leoa, país localizado entre Guiné e Libéria, na costa Oeste da África: “Aqui ficava minha casa, lá o campo de futebol e muitas outras casas… O oceano destruiu tudo”. Em apenas cinco anos, ele perdeu praticamente tudo o que construiu na vida, submerso pela mudança climática, que ameaça milhões de pessoas em seu país.
“Não acredito que Nyangai sobreviverá, a ilha está sendo engolida pelo mar”, prossegue, enquanto contempla resignadamente o que resta. Ele se refere uma das Ilhas Tartaruga que está desaparecendo devido à elevação do nível do oceano Atlântico. Seus habitantes, considerados os primeiros deslocados climáticos de Serra Leoa, estão exaustos de se mudar e de perder repetidamente suas casas e pertences.
Após sete horas de canoa em um mar agitado a partir da capital de Serra Leoa, Freetown, fica a Ilha Nyangai, cercada pelo oceano e colônias de pelicanos. Com suas praias de areia branca e águas cristalinas, parece um paraíso. Mas os sinais de destruição logo se apresentam: palmeiras arrancadas pela força dos ventos e das ondas, galhos e destroços espalhados pela praia, sacos de areia servindo como barreiras frágeis e móveis abandonados.
Em menos de dez anos, a ilha perdeu dois terços de sua superfície e agora mede apenas 200 metros de comprimento por 100 metros de largura. Centenas de pessoas foram forçadas a partir nos últimos anos devido às inundações. Há uma década, Nyangai tinha uma população de cerca de 1.000 habitantes. Atualmente, não há mais de 300.
Mais de 2 milhões de pessoas vivem na costa de Serra Leoa sob a ameaça da elevação do nível do mar, segundo um estudo realizado em 2024 pela Agência Nacional de Gestão de Desastres (NDMA, na sigla em inglês) de Serra Leoa e pelo Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC), o principal órgão deste tipo de serviço.
Esse país da África Ocidental, com 8 milhões de habitantes, é um dos mais ameaçados do mundo pela mudança climática, e seu litoral “é altamente vulnerável”, enfatiza o estudo, destacando também que a população empobreceu. Em Nyangai, não há água potável devido à salinidade do solo. Dezenas de jovens vagam pela ilha sem nada para fazer ou ficam na praia.
“Tínhamos muitas mangueiras, coqueiros, floresta, mas o oceano destruiu tudo nos últimos anos”, lamenta Amidu Bureh, um pescador de 60 anos. “A água está avançando e destruindo a nós e nossos bens. Ficou muito difícil viver aqui, precisamos de ajuda. As visitas de autoridades e organizações internacionais não apresentaram nenhuma solução concreta além de recomendar que as pessoas se mudem para outros lugares.”
“O que está acontecendo nestas ilhas é uma catástrofe, e é muito mais do que uma emergência”, disse à agência de notícias AFP o ministro do Meio Ambiente e Mudança Climática de Serra Leoa, Jiwoh Abdulai. “É muito doloroso porque nossos concidadãos estão na linha de frente e são severamente afetados por algo pelo qual não são de forma alguma responsáveis”.”(com informações de O Globo)