Segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Inadimplência entre idosos brasileiros cresce em ritmo mais acelerado

A população de inadimplentes idosos cresceu nos últimos quatro anos em ritmo superior ao das faixas etárias mais jovens e à média de todos os brasileiros. O contingente acima dos 60 anos que deixou de pagar as contas básicas foi turbinado pela inflação acima da meta, pelos juros nas alturas e pela atividade econômica fraca — que leva os mais velhos a buscar crédito para socorrer familiares nas despesas do dia a dia.

Entre abril de 2019 e abril deste ano, o número de idosos inadimplentes aumentou 34,7%, enquanto a média da população avançou 12,9%, apontam dados da Serasa Experian, empresa especializada em informações financeiras. No mesmo período, o volume de pessoas negativadas entre 41 a 60 anos cresceu 15,9%; entre 26 e 40 anos, a alta foi de 4,6%, e até 25 anos, de 2,3%.

Em números absolutos, os idosos não são a maior fatia dos inadimplentes. Num universo de 71,4 milhões de brasileiros que estavam nessa condição em abril deste ano, eles somavam 12,8 milhões (ou 17,9% do total). Mas o grupo foi ampliado em 3,3 milhões de inadimplentes nos últimos quatro anos.

Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, aponta dois fatores que levaram ao aumento expressivo do número de inadimplentes entre os idosos, tendo como pano de fundo a inflação e os juros em alta. O primeiro é a questão demográfica. Ou seja, o próprio envelhecimento da população brasileira fez com que essa faixa etária tenha crescido entre os inadimplentes.

Crédito consignado

Outro fator é o maior acesso a financiamentos por meio do crédito consignado, aquela linha na qual a prestação do empréstimo é descontada diretamente da aposentadoria. “Em momentos de crise, como a recessão de 2015/2016 e agora na pandemia, normalmente os idosos acabam sendo solicitados a contribuir com o orçamento dos parentes mais jovens que perderam renda”, afirma o economista.

Isso leva os maiores de 60 anos a aumentarem o nível de endividamento, seja no crédito consignado ou nos empréstimos pessoais. “Se um idoso está utilizando crédito consignado, sua renda mensal cai ainda mais e ele pode acabar ficando sem recursos para quitar outras dívidas, com as contas básicas (água, luz, telefone), por exemplo”, diz o economista.

Milton Cavalo, presidente do Conselho de Administração da Sicoob Coopernapi, cooperativa de crédito especializada no atendimento de aposentados, pensionistas e idosos, diz que o idoso não se torna inadimplente devido ao crédito consignado, mas em razão da falta de recursos para pagar outras contas.

Periodicamente, diz ele, a cooperativa faz cursos de educação financeira para os aposentados, a fim de conscientizá-los sobre o uso do crédito consignado. “Mesmo tendo uma taxa mais barata, o consignado deve ser usado em último caso”, frisa.

Despesas

Comprometer parte da aposentadoria no consignado tem reflexo na significativa inadimplência de contas básicas entre os idosos. Levantamento da Serasa mostra que, diferentemente de outras faixas etárias, as contas de água, luz e gás, por exemplo, representam o principal segmento das dívidas não pagas entre os idosos, respondendo por 39,7% do total de pendências. Na média dos inadimplentes de todas as faixas etárias, as dívidas com contas básicas representam 22%.

Dados da inflação da terceira idade medida pelo IPC-3i, apurado pela Fundação Getulio Vargas, mostram que os gastos com saúde e cuidados pessoais, que incluem remédios, acumularam alta de 9,21% em 12 meses até março. Esse grupo de preços subiu muito acima da inflação geral da terceira idade, que aumentou 4,06% no mesmo período.

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