Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 24 de outubro de 2025
A inflação nos Estados Unidos permaneceu elevada em setembro, pressionada pela alta nos preços da gasolina, enquanto os custos de aluguéis e alguns serviços mostraram sinais de desaceleração. O cenário reforça um quadro misto em uma economia que mantém crescimento estável, mas com ritmo mais lento na criação de empregos.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 3% em setembro em relação ao mesmo mês de 2024, informou o Departamento do Trabalho nesta sexta-feira, 24. O resultado é o maior desde janeiro e ficou acima dos 2,9% registrados em agosto. Excluindo alimentos e energia, a chamada inflação básica também avançou 3%, ligeiramente abaixo dos 3,1% do mês anterior.
Na comparação mensal, os preços subiram 0,3% em setembro, desacelerando frente aos 0,4% de agosto. A inflação básica aumentou 0,2%, também em ritmo menor que no mês anterior.
O relatório do CPI foi divulgado com mais de uma semana de atraso por causa da paralisação parcial do governo, que já dura quatro semanas. A administração Trump convocou parte dos funcionários do Departamento do Trabalho para garantir a publicação dos números, usados para definir o reajuste anual de cerca de 70 milhões de beneficiários da Previdência Social.
Os dados vieram abaixo das previsões de muitos economistas e devem aliviar a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A instituição já havia sinalizado cortes na taxa básica de juros na próxima reunião e possivelmente em dezembro. Ainda assim, a inflação segue acima da meta de 2%, mantendo a cautela entre os formuladores de política monetária.
A gasolina teve alta de 4,1% em setembro ante agosto, sendo o principal fator de pressão inflacionária. Os preços dos alimentos subiram 0,3% no mês e acumulam alta de 2,7% em 12 meses.
O custo de vida vem ganhando peso no debate político. O aumento nos preços de aluguéis e mantimentos é um dos principais temas na disputa pela prefeitura de Nova York. O presidente Donald Trump, que reconheceu ter se beneficiado eleitoralmente do avanço dos preços sob o governo Joe Biden, avalia permitir importações de carne bovina argentina para conter o custo recorde da carne nos EUA — medida que tem irritado pecuaristas locais.
O preço da carne moída atingiu US$ 6,32 o quilo, novo recorde, impulsionado por tarifas sobre importações de países como o Brasil, que enfrenta alíquota de 50%, e por anos de seca que reduziram os rebanhos.
Mesmo com a inflação bem abaixo do pico de 9,1% registrado há mais de três anos, o tema continua no centro das preocupações dos consumidores. Cerca de metade dos americanos considera o preço dos mantimentos uma fonte importante de estresse, segundo pesquisa da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research.
Levantamento do Conference Board mostra que os consumidores ainda citam a inflação de forma recorrente em respostas sobre confiança econômica.
Apesar disso, os preços não subiram tanto quanto muitos analistas previam após o anúncio do novo pacote tarifário do governo Trump. Importadores anteciparam compras antes da entrada em vigor das tarifas, enquanto parte dos impostos foi reduzida em acordos comerciais com China, Reino Unido e Vietnã.
Economistas e integrantes do Fed avaliam que o impacto das tarifas deve ser pontual, dissipando-se no início de 2026. Ao mesmo tempo, a inflação subjacente — que exclui os efeitos das tarifas — mostra tendência de desaceleração, especialmente nos aluguéis, que têm crescido de forma mais moderada em todo o país.