Segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Inflamação crônica em idosos vem de hábitos e não é universal

À medida que envelhecemos, aumentam as dores e doenças crônicas. Pesquisadores acreditam que parte dessas condições esteja relacionada à inflamação persistente no organismo, mesmo na ausência de infecção. O fenômeno, conhecido em inglês como inflammaging — uma junção de “inflammation” (inflamação) e “aging” (envelhecimento) —, é caracterizado por uma inflamação crônica, de baixo grau e latente.

“É uma característica do envelhecimento marcada por uma inflamação crônica, latente e de baixo grau”, explica Vishwa Deep Dixit, professor de patologia e imunobiologia e diretor do centro de pesquisa sobre envelhecimento da Universidade Yale.

Essa inflamação silenciosa está associada a diversas doenças, mas nem todos os grupos populacionais sofrem seus efeitos. Estudos recentes mostram que alguns povos indígenas parecem não desenvolver o inflammaging na mesma intensidade que os habitantes de países industrializados.

O pesquisador Juan Pablo de Rivero Vaccari, professor associado de neurocirurgia da Universidade de Miami, afirma que o inflammaging “prepara o ambiente para doenças neurodegenerativas, como demência e Parkinson”. Compreender esse processo, acrescenta Dixit, é essencial para “entender a biologia do envelhecimento e o que podemos fazer para atrasar as doenças degenerativas que emergem dele”.

A inflamação é uma resposta natural do organismo a infecções ou lesões, mas deve cessar quando o problema é resolvido. No inflammaging, porém, essa resposta permanece ativada sem motivo aparente. “O propósito dessa inflamação ainda não é claro”, diz Dixit.

Segundo Alan Cohen, professor de ciências da saúde ambiental na Universidade Columbia, as células envelhecidas e danificadas emitem sinais de alerta que alimentam essa inflamação. “À medida que envelhecemos, nossos estressores internos aumentam. Algo deixa de funcionar tão bem”, explica.

O inflammaging está relacionado a doenças como aterosclerose, diabetes, doenças cardiovasculares, demência e morte precoce. Vaccari lembra que “a inflamação pode ser o predecessor de muitas dessas doenças”. Ele cita o Alzheimer, que pode começar até 20 anos antes dos sintomas cognitivos se tornarem evidentes, com uma resposta inflamatória já em curso.

Entre os fatores de risco estão o aumento da gordura visceral — que envolve os órgãos internos — e níveis descontrolados de açúcar no sangue.

Pesquisadores investigam os mecanismos que sustentam o inflammaging para permitir diagnósticos precoces e tratamentos específicos. Citocinas como IL-6 e IL-1β, proteínas envolvidas nas respostas imunes, têm papel importante nesse processo. “O desafio é entender quais vias são adaptativas e quais são prejudiciais”, afirma Dixit.

Em um estudo recente, Cohen e sua equipe compararam marcadores imunológicos de pessoas da Itália e de Cingapura com os de povos indígenas tsimane, da Bolívia, e orang asli, da Malásia. O resultado mostrou que o inflammaging não é universal: ele parece estar ligado ao estilo de vida industrializado.

Os tsimane e os orang asli, embora apresentem níveis de inflamação elevados devido a infecções comuns, não exibem o mesmo padrão de inflamação relacionada à idade nem as doenças crônicas típicas das sociedades industrializadas. “Ficou claro que eles não estão fazendo nada parecido com as populações industrializadas”, diz Cohen.

O pesquisador alerta, contudo, que a inflamação não deve ser vista apenas como vilã. “Ela é como um alarme de incêndio: pode ser incômoda, mas indica que algo não está indo bem. Isso não significa que você queira desativar o alarme”, compara.

Para conter os efeitos do inflammaging, especialistas recomendam hábitos saudáveis desde cedo. “A vida às vezes cobra a conta do que você fez 20 anos antes”, afirma Vaccari. Controlar a pressão arterial, reduzir a gordura visceral e equilibrar o açúcar no sangue são atitudes fundamentais.

“Vale o conselho das avós: faça tudo com moderação, não coma demais e exercite-se”, reforça Dixit. Embora não exista dieta específica, estudos indicam que a restrição calórica moderada pode reduzir marcadores inflamatórios.

“Mantenha-se nutrido, mas não dói, de vez em quando, sentir um pouco de fome”, aconselha Vaccari. Ele também destaca a importância do sono, “que ajuda o cérebro a eliminar toxinas”.

Por fim, Cohen recomenda equilíbrio. “Não fique ansioso tentando microgerenciar algo que ainda não compreendemos completamente”, diz.

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