Domingo, 09 de novembro de 2025

Influente na Câmara dos Deputados, ex-presidente da Casa sai em socorro do atual

Mais de cinco meses após deixar o comando da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) mantém sua influência entre os pares alternando gestos ao governo de Lula e a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi a Lira, por exemplo, que a oposição recorreu para costurar o acordo que permitiu a desobstrução do plenário e a devolução da cadeira de presidente da Casa ao seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Líderes do motim que impediu o funcionamento da Câmara por dois dias buscaram Lira antes de uma reunião com Motta. Na véspera, o ex-presidente da Casa havia feito um aceno ao bolsonarismo ao criticar a prisão domiciliar de Bolsonaro.

No gabinete do deputado, integrantes da oposição ouviram dele um apelo para que o protesto cessasse e os trabalhos fossem retomados. Em troca, teriam apoio para pautas de interesse do grupo, que inclui o fim do foro privilegiado e a discussão sobre a anistia aos acusados por tentativa de golpe. As medidas são demandas dos bolsonaristas, que tentam tirar o ex-presidente, réu na ação que trata da trama golpista, das mãos do STF.

Ao atuar como fiador do acordo, também colocou na lista um pacote de medidas para blindar parlamentares na mira da Justiça. A chamada PEC da Blindagem inclui a necessidade de aval do Legislativo para que um congressista seja investigado, além de prisão apenas em casos de flagrante ou crime inafiançável.

Lira chegou a tentar avançar em mais de uma oportunidade durante sua gestão na Câmara, mas recuou diante de resistências. Entre elas do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que se posicionou de forma contrária a “qualquer iniciativa que busque extinguir a possibilidade de investigação contra qualquer cidadão”.

Agora, o cenário mudou. Sem o peso institucional de presidir a Câmara, o deputado aproveitou a ofensiva da oposição contra o STF para costurar mais apoios à proposta. A expectativa é que a PEC da Blindagem, a exemplo do fim do foro privilegiado, seja discutida na reunião de líderes desta semana e colocada em votação na sequência. Procurado, Lira não comentou.

Ainda que tenha feito acenos aos bolsonaristas, a negociação também rendeu de forma positiva para o governo, que agora tem a Câmara destravada para votar propostas de seu interesse. A principal é isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, promessa eleitoral de Lula.

A iniciativa é relatada pelo próprio Lira e é considerada prioridade máxima pelo petista, que quer usar o tema como uma de suas bandeiras para a tentativa de reeleição no ano que vem. O governo tenta correr com a iniciativa, que precisa ser aprovada até setembro para poder valer em 2026.

O relatório do texto, favorável à proposta, foi apresentado por Lira no mesmo dia em que Lula anunciou a indicação da procuradora de Justiça de Alagoas Maria Marluce Caldas para ocupar uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A escolha do presidente fez parte de uma costura eleitoral no estado envolvendo o sobrinho de Maria Marluce, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (JHC), que se comprometeu a não disputar as eleições.

Lira temia ser traído pelo prefeito, que é seu aliado, mas estava sendo cobiçado para integrar uma chapa de candidatos a senador com Renan Calheiros (MDB-AL), principal rival do deputado do PP. Com duas vagas em disputa, o deputado deve tentar migrar de casa legislativa no ano que vem.

— Arthur está de amores com o governo e com o acordo para ser senador apoiado por JHC e a tia do prefeito que vai para o STJ. A influência dele será sempre forte para ajudar ou atrapalhar — disse o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), da executiva nacional do partido de Lira.

O protagonismo de Lira no acordo com a oposição rendeu comentários sobre o enfraquecimento de Motta, que não se envolveu nas negociações. Ao ser questionado sobre o tema, negou aval ao que foi firmado pelos líderes no gabinete do padrinho político e minimizou o fato de ter ficado de fora das conversas:

— O presidente Arthur é um amigo e tem colaborado muito para o país. É natural que em momentos de tensão todos aqueles que querem o bem da Casa se unam para construir um consenso. Ele participou como todos os líderes participaram.

Punição a deputados

O corregedor da Câmara, Daniel Coronel (PSD-BA), deve apresentar até quarta-feira os pareceres dos processos disciplinares contra parlamentares que obstruíram os trabalhos da Casa. O deputado ainda disse que vai se reunir com Motta e os outros integrantes da Mesa Diretora para tratar do tema. Ao todo, pelos menos 14 congressistas, que são alvos de representações, poderão ter seus mandatos suspensos por até seis meses. Com informações do portal O Globo.

 

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