Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de outubro de 2025
O Prêmio Nobel de Economia de 2025 reconhece três dos mais influentes estudiosos do crescimento econômico contemporâneo: Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt. Suas contribuições, embora distintas, convergem para indicar que o progresso das nações depende, antes de tudo, da capacidade de inovar. A inovação é o elo entre o avanço tecnológico, a produtividade e o bem-estar coletivo. É ela que mantém o motor da economia em funcionamento, num ciclo de criação, destruição e renovação que sustenta o desenvolvimento de longo prazo.
Joel Mokyr, historiador econômico, foi um dos primeiros a mostrar que o crescimento sustentado não é mero produto do acaso ou do capital acumulado, mas resultado de uma cultura de conhecimento e de instituições que valorizam a experimentação. Em obras como The Gifts of Athena (2002), Mokyr argumenta que o que diferenciou a Revolução Industrial britânica das experiências anteriores foi a disseminação de uma “república do saber”, uma rede de inventores, cientistas e artesãos que compartilhavam descobertas e se beneficiavam mutuamente do avanço técnico. Essa combinação de ideias, incentivos e confiança social foi o que permitiu o surgimento de um ciclo de inovação contínua, capaz de gerar crescimento sem interrupções prolongadas.
Se Mokyr explica o “porquê” do crescimento sustentado, Aghion e Howitt descrevem o “como”. Sua teoria do crescimento endógeno, formulada nos anos 1990, parte da noção schumpeteriana de “destruição criativa”: novos produtos e tecnologias substituem os antigos, tornando obsoletos modelos de negócio, processos produtivos e até profissões. A inovação, portanto, é uma força ambivalente, pois gera riqueza e produtividade, mas também destrói estruturas consolidadas. Para que essa força produza prosperidade líquida, as economias precisam de instituições capazes de lidar com a transição: educação de qualidade, proteção social e políticas de concorrência que evitem a captura do mercado pelos incumbentes.
A evidência empírica confirma essa dinâmica. Estudos de Aghion mostram que países com maior grau de concorrência e liberdade para empreender, como Estados Unidos, Coreia do Sul e Suécia, têm maior produtividade total dos fatores, pois o ambiente competitivo acelera a substituição de tecnologias obsoletas por mais eficientes. O mesmo se observa em setores intensivos em inovação: empresas que investem em P&D (pesquisa e desenvolvimento) crescem mais rápido, exportam mais e pagam melhores salários. O paradoxo da produtividade, observado nas últimas décadas, em que o avanço tecnológico nem sempre se traduz em ganhos econômicos imediatos, reflete não uma falha da inovação, mas o tempo necessário para que novas tecnologias, como a inteligência artificial, se difundam e sejam incorporadas de forma eficaz à economia real.
O Brasil fornece um contraponto revelador. Embora o país tenha passado por surtos de modernização, como na industrialização entre as décadas de 1930 e 1980, o baixo investimento em ciência e tecnologia, aliado à rigidez institucional e à má qualidade da educação básica, impediu a formação de um ecossistema inovador robusto. Como observa o economista José Alexandre Scheinkman, “o crescimento brasileiro foi sustentado por choques de produtividade pontuais, não por um processo contínuo de inovação”. Isso explica por que a produtividade total da economia brasileira permanece praticamente estagnada há quatro décadas, enquanto países asiáticos, que combinaram investimento em P&D com abertura comercial e educação técnica, transformaram-se em potências tecnológicas.
Em tempos em que a inteligência artificial, a biotecnologia e a transição verde redesenham o cenário produtivo global, a lição dos premiados indica que o progresso depende da coragem de destruir o velho para abrir espaço ao novo. Economias que compreendem e administram esse ciclo com sabedoria não apenas crescem, mas se reinventam continuamente. Cabe ao Brasil, com urgência e senso de oportunidade, embarcar nessa nova era.
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