Sábado, 27 de julho de 2024

Insistência de Lula em dizer que Dilma sofreu golpe incomoda até aliados

Adversários e até aliados reagiram à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante viagem ao Uruguai, quando o petista chamou o ex-presidente Michel Temer de “golpista”, em alusão ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A declaração provocou desconforto em partidos da base como MDB e União Brasil, deu munição para provocações da direita e reacendeu disputas antigas com rivais como o PSDB.

Com indicações em ministérios importantes na gestão Lula, o MDB procurou tratar o mal-estar internamente, mas não deixou de compartilhar em seu perfil oficial a reação de Temer. O ex-presidente respondeu Lula com ironia ao dizer que recuperou o país da maior recessão da História e que o episódio na verdade tratou-se de um “golpe de sorte”.

O presidente do MDB, Baleia Rossi, não se pronunciou. Aliados, no entanto, admitem o incômodo na legenda e lembram que Baleia tem se empenhado e ido a Brasília de forma assídua para ajudar o governo Lula na discussão da reforma tributária, proposta tida como vital para a recuperação da economia. Na sigla, existe certa compreensão da mágoa dos petistas. Por outro lado, lideranças dizem que a declaração de Lula não ajuda e reiteram que o país tem problemas reais mais graves para tratar.

Também na base do governo, Luciano Bivar, que é presidente do União Brasil, disse que Lula “foge da realidade factual”.

“Eu não sou antropólogo e nem outro estudioso qualquer da natureza humana. Mas ninguém foge à realidade factual. Fugir disso é negar a sociologia, a antropologia e todos os estudos que dizem respeito à sociedade em evolução”, afirmou Bivar.

Ex-ministro na gestão de Jair Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) reagiu nas redes sociais. Disse que a declaração ataca a ministra Simone Tebet (Planejamento). Além de Tebet, outros integrantes de ministério de Lula como José Múcio (Defesa) e Carlos Fávaro (Agricultura) também foram favoráveis ao afastamento de Dilma. Até mesmo o vice-presidente Geraldo Alckmin, que inicialmente resistiu, aderiu ao impeachment. Nas eleições de 2022, no entanto, Alckmin recuou e disse que não foi golpe, mas que foi injusto.

Representação

Mesmo personagens forjados na política durante o impeachment de Dilma aproveitaram o assunto para fustigar o PT e Lula. Um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), o deputado federal Kim Kataguiri (UB-SP) representou contra Lula na recém criada Procuradoria Nacional da Defesa da Democracia e acusou o presidente de disseminar fake news ao afirmar que o impeachment de Dilma foi golpe.

Especialista em direito constitucional, Vera Chemin rebate a tese de “golpe”. Chemin afirma que o impeachment cumpriu o rito de um processo constitucional, com trâmite na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no próprio Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, afirma que houve um processo regular previsto na Constituição, tendo a OAB federal também entrado com igual pedido em face do desastre da recessão que jogou o país na miséria.

“O PT entrou com mais de cem pedidos de impeachment contra FHC. É uma narrativa que não ajuda o país agora”, disse o jurista, que apoiou Lula no segundo turno da eleição de 2022.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, discordou em postagem nas redes sociais. “A capa de institucionalidade que revestiu o impeachment da presidenta Dilma não muda o fato de que ela não cometeu crime nenhum. Foi, sim, vítima de uma falsa acusação e de um golpe político”.

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