Sábado, 19 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de julho de 2025
Nunca imaginei que pudesse chegar à atual situação: querelas internas, que são comuns e normais nas democracias, de repente envolverem a interferência direta de um governante de país estrangeiro contra algo que só a nós brasileiros cabe decidir.
Como pode um chefe de estado como é o caso de Trump, exigir formalmente, por carta, que o Brasil tome tal atitude, tal decisão, que dizem unicamente respeito à nossa soberania, e de cara já estabelecendo graves sanções contra os nossos interesses? Quem lhe conferiu tal prerrogativa? Por que ordem de maluquice Trump imagina que o governo brasileiro, o STF irão se submeter aos seus desígnios alucinatórios?
Como pode o governante do país mais poderoso do mundo agir como um gangster? Em normal circunstância deve-se exigir exame antidoping antes de negociar com esse deletério personagem. Cachorro louco, um pitbull solto, sem juízo e medida, ameaçando morder.
O presidente doidivanas diz em carta, que está em curso no Brasil uma caça às bruxas, em que o alvo principal é o seu parceiro e amigo de infância Jair Bolsonaro, a qual deve acabar IMEDIATAMENTE, assim em maiúsculas. É tão descuidada a correspondência que ele alega um superávit comercial do Brasil, que na verdade acumula déficits comerciais com os EUA desde 2009.
E o governante, comunica desde logo a punição, sem aviso prévio, diálogo ou processo, de forma unilateral, de uma sobretaxação da ordem dos 50% na importação de produtos brasileiros, virando de cabeça para baixo o comércio entre os dois países: uma verdadeira declaração de guerra.
Trump pode não gostar de Lula, e pode passar o pano nas estripulias golpistas como se não tivessem acontecido, pode querer mostrar ao mundo a distinta consideração que devota a Bolsonaro, mas o que está em jogo é uma questão da órbita interna de um país soberano, o Brasil.
Brasil, a pátria suposta do bolsonarismo, que entretanto, na hora do aperto se refugia à sombra não das instituições nacionais, sob a bandeira verde-amarela, mas sob a bandeira estrelada da América. O coração dos Bolsonaros bate pela América, não pelo Brasil. Não é à toa que ironizam: Bolsonaro usa dois relógios, um com a hora de Brasília, outro com a hora de Washington.
O mais notável é que os seguidores de Bolsonaro, obnubilados, botam a mão fogo pelo presidente canastrão e vão pela trilha de sempre: a culpa é de Lula. Ou seja, sem uma palavra de aviso, de inopino, causando total perplexidade, Donald Trump, no seu instinto de cachorro louco, de uma canetada, impõe ao Brasil uma sobretaxa obscena e a culpa é de Lula!
Algo que deveria unir o país em um brado de indignação e resistência, em nada abalou a predileção dos bolsonaristas. E personagens como Zema, Caiado, Ratinho, Tarcísio, aderem sem restrições ao discurso de que a razão assiste a Al Capone.
Terá o colunista se perdido no entremeio da polarização, não sendo mais capaz de diferenciar o certo do errado? Terão tais personagens, os bolsonaristas, perdido coletivamente o juízo, vítimas de um quebranto importado do inferno livre de taxas?
titoguarniere@terra.com.br