Segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Interlocução entre Brasil e Estados Unidos desanuviou depois do julgamento de Bolsonaro

Combinado o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, muitos empresários têm reivindicado a paternidade desta interlocução. O Itamaraty acolhe e reconhece esta participação, mas, intramuros, se queixa da falta de reconhecimento do trabalho diplomático feito neste sentido. Pudera, é tudo cercado de muito sigilo. Sabe-se hoje, por exemplo, que, o clima melhorou – e muito – depois do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Foi quando as autoridades americanas se deram conta de que a separação de poderes era mais do que uma alegação do governo brasileiro e que o Supremo Tribunal Federal seguiria adiante a despeito de quaisquer pressões. E, ainda, que o Brasil não havia entrado em estágio de ebulição com o julgamento como havia sido vendido para o governo americano.

A partir daí, conta um diplomata, começaram a chegar mensagens. Não revelam de quem, por receio de queimar pontes de um acesso que ainda é embrionário, mas dizem que os acenos vieram tanto da Casa Branca quanto do Departamento de Estado e todos sinalizavam que estava na hora de voltarem a conversar.

A embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Ribeiro Viotti, por exemplo, é o canal do governo com a chefe de gabinete de Trump, Susie Wiles. No dia 11 de setembro, João Camargo, presidente do conselho do grupo Esfera, publicou em suas redes sociais uma foto com Susie Wiles.

O encontro entre Lula e Trump na antessala do plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas é um subproduto desse relaxamento de tensões. Ambos os presidentes poderiam ter evitado um ao outro, bastava que as assessorias coordenassem entradas e saídas do recinto. Não se encontraram por acaso, mas porque quiseram. O resto ficou por conta do tino político de cada um.

Entre aqueles que integram o (reduzido) time dos não-ideológicos do governo, a chefe de gabinete é considerada uma daquelas a quem Trump mais ouve. Este é, supostamente, o time que menos ouvidos dá à pregação da dupla Eduardo Bolsonaro&Paulo Figueiredo, o deputado federal e o jornalista que reivindicam a titularidade da operação contra o Brasil. O mapeamento do time não-ideológico pelo Itamaraty mal começou porque, até aqui, valia aquilo que estava escrito na carta de 9 de julho que anunciou a tarifa de 50%: toda interlocução estava interditada.

Numa missão a Washington, entre 10 e 15 de julho, logo depois da carta do tarifaço, um diplomata constatou que o lobby brasileiro em Washington era uma lástima. O sinal de alerta foi ligado, mobilizando, inclusive, comitivas empresariais. Diplomatas brasileiros fazem uma concessão a uma vantagem dos empresários sobre a atuação estatal. Vem deles o testemunho mais crível sobre as dificuldades acumuladas pelo bolsonarismo para fazer crer a Trump de que não adianta arrochar as medidas contra o Brasil em seu nome porque daquela mata (do bolsonarismo) não sai mais coelho.

É de se esperar que a experiência acumulada ao longo da pedreira que foi a busca dessa interlocução será posta a serviço da agenda desse encontro virtual, ainda sem data. Desde a realização das audiências públicas na Representação Comercial dos EUA, a USTR, em 8 de setembro, sabe-se que a regulação das plataformas digitais é um dos temas mais sensíveis. Não foi por acaso que a proposta de regulação das plataformas a ser enviada pelo governo ao Congresso ainda não saiu da gaveta.

Por outro lado, o marco regulatório para a indústria de datacenters, com isenção de impostos, foi enviada na semana passada ao Congresso. A condenação do ex-presidente, que começou a desanuviar o ambiente, havia acontecido dias antes. Dos debates havidos naquelas audiências públicas, não parece haver dúvidas de que se Lula quiser obter êxitos na negociação, terá que fazer concessões no etanol. (Com informações do Valor Econômico)

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