Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de julho de 2025
A delegação do Irã presente nas reuniões precursoras da Cúpula do Brics, no Rio, pressiona o grupo a adotar um tom mais contundente contra os bombardeios dos quais o país foi alvo, realizados por Estados Unidos e Israel, num combate aéreo que durou 12 dias.
Os diplomatas iranianos querem fazer constar na Declaração de Líderes do Rio, cujo rascunho está em fase de negociação final, uma menção mais clara de apoio que aquela emitida pelo bloco na semana passada.
Esse é um dos temas pendentes de resolução na reunião de sherpas – os negociadores-chefes do grupo – que começou na segunda-feira, dia 30, e deve se estender até o fim de semana, extrapolando o cronograma inicial, que previa a conclusão na sexta-feira (4).
Em que pese o Brics já ter uma manifestação prévia sobre os bombardeios, o que facilita as tratativas, negociadores discutem uma “mensagem adicional” sobre conflitos geopolíticos, em especial a guerra ao Irã. Teerã cobra um pronunciamento mais duro por parte dos demais membros.
Uma das razões para a ofensiva diplomática de Teerã é que a declaração final do Brics será um comunicado em nome dos líderes políticos desses países – parte dos quais se reunirá presencialmente no Rio neste domingo (6) e segunda (7). Ou seja, terá outro peso político.
A eclosão do conflito direto com Israel e o envolvimento direto dos EUA contaminou a pauta de discussões, que o Brasil tentou deixar “limpa” de temas conflituosos com o Ocidente – como a proposição de uma agenda de desdolarização e as guerras no Oriente Médio e no Leste Europeu.
A guerra passa por um cessar-fogo considerado frágil por atores internacionais e passou a figurar na lista dos principais tópicos de discussão entre os líderes do Brics.
Apesar de não ter havido novos confrontos desde o pronunciamento do Brics, Teerã demonstrou estar insatisfeita com a manifestação anterior e passou a cobrar um avanço na linguagem, segundo duas fontes que acompanham as conversas no Rio.
Antes da reunião de sherpas, o Brics já havia alcançado um texto de consenso negociado por diplomatas, emitido no dia 24 de junho, como pronunciamento comum aos países. Ele foi publicado no dia 24 de junho, três dias após os bombardeios, com o título de “Declaração Conjunta do Brics sobre a Escalada da Situação de Segurança no Oriente Médio Após os Ataques Militares no Território da República Islâmica do Irã“.
Nessa declaração conjunta, o Brics expressou apenas “profunda preocupação” com os ataques aéreos e evitou “apontar o dedo” aos governos Binyamin Netanyahu e Donald Trump. Israel e EUA não são mencionados como autores do bombardeio.
Em contraste, a Declaração de Kazan, emitida pelos líderes após a cúpula de 2024, critica as ações militares de Israel em Gaza com oito menções diretas e nominais ao país e suas forças armadas, ao longo de seis parágrafos dedicados a questões de segurança no Oriente Médio.
O padrão se manteve no comunicado de ministros das Relações Exteriores, emitido em abril apenas em nome da presidência brasileira. Isso ocorre quando não se alcança acordo entre todos os delegados para se pronunciarem sobre algum assunto. O impasse na ocasião, que também persiste, era sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A expectativa agora é que um processo de “moderação” da linguagem desejada pelo Irã seja empreendido novamente pelos países mais ligados a Tel-Aviv e Washington, como Índia, Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita.
Para o Brasil, recrudescer o tom não seria um problema, mas negociadores admitem que alguns países com relações mais próximas a Tel Aviv e Washington resistem a uma menção explícita. Entre eles, – aliados dos EUA em questões de segurança. No caso da Índia, o país ainda enfrenta um conflito com o Paquistão e grupos terroristas islâmicos.
O teor do Brics foi mais brando do que algumas posições nacionais, como a do próprio Brasil, que citou nominalmente os autores dos ataques – Israel e EUA – e afirmou que condenava a ação militar “com veemência”. A linguagem do governo Lula gerou críticas por se distanciar da posição de democracias ocidentais e coincidir mais com a da Rússia e a da China.
Textos de declarações multilaterais nunca são totalmente coerentes, por causa da necessidade de se contemplar visões diversas e muitas vezes distintas, pondera um embaixador. O grupo tem algumas rivalidades regionais, como Índia e China, Irã e Arábia Saudita, Egito e Etiópia. (Com informações do Estado de S. Paulo)