Domingo, 22 de junho de 2025

Israel x Irã: o que significa a entrada dos Estados Unidos no conflito

Os Estados Unidos entraram na guerra entre Israel e Irã ao bombardear, nesse sábado (21), três instalações nucleares iranianas. Foi a primeira vez que os Estados Unidos bombardeiam o território iraniano desde o rompimento das relações entre os dois países na Revolução Islâmica de 1979.

A operação, confirmada por Donald Trump em pronunciamento na noite de sábado, acontece após uma semana de combates aéreos entre Israel e Irã. Nos últimos dias, Israel já tinha anunciado uma operação para destruir alvos nucleares iranianos. O Irã retaliou com mísseis contra cidades como Tel Aviv, Haifa e Jerusalém.

Ataque representa uma escalada militar no conflito, analisa o professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernando Brancoli. Os Estados Unidos participam agora diretamente do conflito, diz o professor. “Isso representa uma escalada clara no conflito, de apoio indireto aos ataques de Israel, os EUA agora participam diretamente. C resultado tem sido uma séria degradação da infraestrutura nuclear iraniana”, avalia Brancoli.

Apesar do ataque, não houve declaração formal de guerra pelos EUA. O professor explica que foram ataques cirúrgicos seletivos, sem abertura oficial de uma guerra. “A estratégia está alinhada ao que os EUA já praticaram: bombardeios pontuais, visando objetivos estratégicos específicos. Nesse caso, o alvo é claramente o programa nuclear iraniano. Trump ainda não buscou aprovação formal do Congresso”, diz.

Para Priscila Caneparo, doutora em Direito Internacional, a entrada dos Estados Unidos pode provocar um conflito ainda mais sangrento, com mortes de civis. “O que a gente observa que os Estados Unidos são os únicos atores competentes que teriam o poder num contexto mundial para neutralizar o programa nuclear iraniano, já que possuem artilharia para tanto, diferentemente de Israel.”

Professora de relações internacionais do Ibmec, Karina Stange Calandrin afirma que o bombardeio autorizado por Trump eleva riscos, amplia alvos e reduz o espaço para contenção diplomática. “Isso sinaliza que os EUA estão dispostos a usar força total na destruição de instalações nucleares estratégicas iranianas”, avalia.

A especialista concorda que não há declaração formal de guerra. “Não se trata de mobilizar tropas em solo nem iniciar uma invasão. Mas, ao lançar múltiplas bombas, incluindo misseis de bunker-buster, os EUA demonstram disposição de usar força contundente, ainda que limitada, como tem sido padrão em intervenções americanas anteriores” explica Karina Stange Calandrin.

Nelson Franco Jobim, mestre em relações internacionais, explica que os EUA já estavam no conflito mas apenas ajudando Israel a se defender. Agora, a questão é como o Irã vai retaliar.

É provável que o país persa ataque bases dos EUA no Oriente Médio e acione milícias aliadas, como os Houthis do Iêmen, o Hezbollah, no Líbano, para atingir navios e bases americanas na região. “Mas não há sinais de operações terrestres nos EUA. O Irã busca retaliar sem provocar uma guerra total, que levaria a uma resposta americana devastadora. Além disso, sua capacidade logística para atacar território dos EUA diretamente é muito limitada”, diz a professora de relações internacionais.

Resposta a aliados

Pedro Costa Júnior, cientista político e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) diz que, apesar do ataque, é possível que Trump recue. “Ele não dá sinal que vai proclamar uma guerra, mas tudo vai depende do que o Trump vai falar em seu pronunciamento hoje”.

“O recado foi: ‘fizemos o que Israel não pode fazer — agora é hora de negociar’. Se o Irã atacar soldados norte-americanos no Oriente Médio, os EUA devem entrar com força total na guerra. Essa é a sinalização que Trump deu”.

Problema global

A entrada dos EUA no conflito deve trazer consequências globais. Do ponto de vista econômico, Maurício Santoro alerta que o Irã já anunciou que, se for atacado, pode minar o Estreito de Ormuz. A região liga o Golfo Pérsico ao mar aberto e é uma importante rota para o petróleo.

“Seria bem complicado para a navegação comercial. Isso faria com que o preço do petróleo disparasse globalmente. Provocaria um aumento expressivo”, afirma.

A professora Priscila Caneparo afirma que uma guerra na região também é desfavorável inclusive para aliados do Irã, como a China e a Rússia.

Santoro complementa afirmando que a China tem apresentado uma postura cautelosa em relação ao conflito. Vale lembrar que o governo de Pequim fez uma série de acordos econômicos e militares com o Irã nos últimos anos.

Os analistas avaliam que, em um primeiro momento, o impacto militar direto do confronto deve se concentrar na própria região. O maior risco agora, segundo eles, é de uma escalada generalizada no Oriente Médio, com aumento das mortes de civis.

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