Quinta-feira, 15 de maio de 2025

Jatinho que transportou procurador do INSS pertence a empresa do agronegócio

O jatinho que transportou o então procurador-geral do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) Virgílio Oliveira entre São Paulo e Curitiba no final do ano passado, conforme mostram registros em vídeo em posse da Polícia Federal (PF), é operado por uma empresa relevante no setor do agronegócio controlada por um empresário do Mato Grosso considerado um dos campeões do desmatamento na Amazônia.

Um lobista investigado pela CPI da Covid, Danilo Trento, pagou as passagens de Virgílio entre Brasília e São Paulo em um voo de carreira da Latam na noite de 28 de novembro de 2024. Os dois foram filmados pelo sistema de vigilância do aeroporto de Congonhas.

O procurador do INSS então embarcou na aeronave modelo Cessna CitationJet prefixo PR-EDT, operada pela Agropecuária Rio de Areia Ltda, controlada por Edio Nogueira. De lá voou para a capital paranaense, onde tem residência. A PF investiga quem financiou a viagem e por quê.

As informações do avião são públicas e podem ser consultadas no banco de dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O jato executivo, adquirido por meio de alienação fiduciária, ainda consta como propriedade da fabricante Textron. Mas a Rio de Areia é quem opera de fato o jatinho – que, por sinal, não tem autorização para explorar a atividade de táxi aéreo.

Multas ambientais

Entre 2019 e 2020, as fazendas de Nogueira em Mato Grosso receberam R$ 52 milhões em multas por crimes ambientais. Após uma reportagem da revista Veja de julho de 2020 listar os maiores responsáveis pela derrubada da Floresta Amazônica a partir de sanções emitidas pelo Ibama desde 2019, o empresário recebeu a alcunha de “campeão do desmatamento” no bioma.

Em setembro do ano passado, a Veja também publicou reportagem demonstrando que Nogueira ainda não havia pago R$ 50 milhões em multas do Ibama. Em 2023, ele fechou um acordo com o Ministério Público do Mato Grosso que previa a doação de uma área nativa de 10 mil m² no Pantanal para a formação de um parque nacional e o pagamento de uma indenização de R$ 5 milhões por danos ambientais.

Nogueira também é dono de uma das maiores distribuidoras de combustíveis do país, a Royal FIC.

Ainda não está clara a vinculação do empresário e da Rio de Areia com Virgílio Oliveira, o então procurador-geral do INSS – e nem se o jato foi usado como táxi aéreo à revelia da restrição informada pelo cadastro do Cessna na Anac.

As investigações da PF apontam que Virgílio Oliveira atuou para liberar os descontos ilegais nas aposentadorias de mais de 6 milhões de brasileiros na condição de procurador-geral do INSS. Ele recebeu R$ 7,5 milhões de Antonio Carlos Antunes, conhecido como “Careca do INSS” e apontado pela PF como intermediário das fraudes, por meio de sua mulher, Thaisa Hoffmann.

Trento, o operador que entrou na mira da CPI da Covid, não embarcou no Cessna e permaneceu em São Paulo. A suspeita da PF é que ele também tenha financiado a segunda perna do trajeto.

O colegiado, instalado no Senado em 2021 para apurar a condução desastrosa da pandemia de covid pelo governo Jair Bolsonaro, indiciou o lobista por diversas transferências de recursos para empresas de Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, que atuava como intermediária na venda de vacinas superfaturadas ao Ministério da Saúde.

Caso

Todo o percurso da dupla foi filmado pelas câmeras de segurança do aeroporto de Congonhas em 28 de novembro de 2024. As imagens foram incluídas pela PF na representação à Justiça que pediu a deflagração da Operação Sem Desconto, que levou à derrubada da cúpula do INSS e, em um segundo momento, à demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.

Os vídeos deixam claro que Trento e Virgílio não apenas são próximos como utilizavam os serviços de um agente da PF para terem acesso a áreas exclusivas do aeroporto, Philipe Roters Coutinho. Roters conduz o procurador do INSS e o lobista até uma viatura da PF, que segue pela via de serviço do aeroporto até um hangar de jatos executivos.

Em seguida a viatura da PF estaciona, Virgílio embarca no jato e a aeronave decola. Minutos depois, Danilo Trento aparece no estacionamento da hangar da Latam com a mala, mas não entra na aeronave.

Cinco dias depois, em 3 de dezembro, Virgilio viajou de Curitiba para Brasília em um voo comercial.

Além de Trento, um outro operador que se tornou conhecido na CPI da Covid, Maurício Camisoti, também aparece nas investigações das fraudes no INSS. (Com informações do jornal O Globo)

 

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