Domingo, 07 de setembro de 2025

José Bonifácio: o patriarca que sonhou o Brasil

No dia em que o Brasil ergueu a sua voz diante de Portugal, havia mais que um grito às margens do Ipiranga. Havia um pensamento moldado em décadas de estudo, uma mente que se alimentara da filosofia dos clássicos e da ciência
moderna, e um coração que pulsava pela liberdade. Esse coração tinha nome e sobrenome: José Bonifácio de Andrade e Silva, o homem que a história consagrou como Patriarca da Independência.

A forja de um sábio

Nascido em Santos, em 1763, entre fortunas mercantis e ecos de linhagem portuguesa, José Bonifácio partiu cedo em busca de luz. Foi em Coimbra, Paris e Freiberg que lapidou sua inteligência como se fosse pedra rara. Estudou Direito, Filosofia Natural, Matemática, Mineralogia, Geognosia — ciências que hoje soam distantes, mas que então eram tochas a iluminar a escuridão do atraso.

Na Europa, cruzou ideias com Lavoisier, Jussieu, Humboldt e tantos outros gigantes. Identificou minerais, escreveu tratados, conquistou renome internacional. Poderia ter ficado entre livros e pedras preciosas, mas preferiu
dedicar-se ao maior dos laboratórios: a pátria.

O estadista que moldou a independência

De volta ao Brasil, encontrou um país entre a colônia e a promessa. A Revolução do Porto, em 1821, soprava ventos constitucionais, e Bonifácio assumiu a Junta Governativa de São Paulo. Foi ele quem escreveu ao príncipe regente, pedindo que não voltasse a Lisboa.

O resultado foi o Dia do Fico, quando Dom Pedro disse:

“Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao
povo que fico!”.

Ministro do Reino e dos Estrangeiros, Bonifácio tornou-se cérebro e bússola do processo de emancipação. Escreveu manifestos, convocou assembleias, defendeu a unidade territorial e sonhou uma monarquia constitucional capaz de resguardar liberdades. Não queria apenas romper com Portugal — queria plantar raízes para uma nação.

O maçom e o visionário

Na fundação do Grande Oriente do Brasil, foi aclamado primeiro Grão-Mestre. Criou o Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz, sociedade secreta destinada a defender a independência. Seu pensamento não era só
político, mas fraterno e universalista, impregnado de valores maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade.
Bonifácio ousou propor o que muitos temiam: a abolição gradual da escravidão, a integração dos povos indígenas à sociedade, a reforma agrária contra os latifúndios das sesmarias.

Falava em escolas primárias em cada termo, universidades espalhadas pelo Império, justiça que fosse também social. Um século antes dos direitos sociais, já pregava proteção à infância, à maternidade e até aos escravizados. Era, como se vê, um homem fora do seu tempo. A muitos pareceu insolente, orgulhoso, petulante. Mas talvez fosse apenas consciente da urgência do Brasil.

Entre glórias e quedas

Pagou caro pela ousadia. Em 1823, após divergências com Dom Pedro I, foi preso e deportado à França. Viveu em Bordéus, voltou anos depois, isolou-se em Paquetá e aceitou ser tutor do menino Dom Pedro II. Morreu em 1838, em
Niterói, deixando poucos bens, mas uma biblioteca de seis mil volumes — e uma herança imaterial impossível de medir.

O legado vivo

Bonifácio dizia, há duzentos anos, que o grande mal do Brasil era a corrupção dos governantes e das elites que preferiam manter privilégios ao desenvolvimento nacional. Olhar para essa advertência hoje é reconhecer que o tempo passou, mas o desafio persiste.

O Patriarca não nos deixou apenas a independência formal. Legou-nos projetos de um país que ainda buscamos: justo, educado, plural, unido em sua diversidade. Na história, há homens que são como pedras comuns — servem para compor o chão.

E há os que são como diamantes: polidos pela disciplina, constância e saber, projetam luz para além do seu século. José Bonifácio foi esse diamante raro, cuja claridade ainda ilumina as veredas do Brasil.

(Alexandre Teixeira G. de Castilhos Rodrigues é advogado, escritor e
membro da Academia Maçônica de Letras do RS – Cadeira nº 15 patrono José
Bonifácio)

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