Quarta-feira, 01 de outubro de 2025

José Lutzenberger e a Rio-92: o ambientalista que preparou o caminho do Brasil para a história climática

José Lutzenberger (1926-2002) foi uma das figuras centrais na construção da consciência ambiental brasileira e internacional nas décadas finais do século XX. Engenheiro agrônomo, ecologista e ativista, ele teve um papel decisivo nos bastidores políticos e diplomáticos que tornaram possível a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento — a histórica Rio-92 — no Brasil.

A Rio-92, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, foi o maior evento ambiental da história até então. Reuniu 178 países, 118 chefes de Estado e governo, e lançou documentos estruturantes como a Agenda 21, a Convenção do Clima e a Convenção da Biodiversidade. Mas antes desse momento histórico, havia resistência internacional e ceticismo interno sobre a capacidade do Brasil de sediar um evento dessa magnitude.

É aí que entra José Lutzenberger.

Ex-funcionário da Basf e um crítico feroz dos agrotóxicos, Lutzenberger fundou nos anos 1970 a organização Agapan, no Rio Grande do Sul, tornando-se referência na luta ambiental. Em 1990, foi convidado pelo então presidente Fernando Collor de Mello para assumir a Secretaria Especial do Meio Ambiente, vinculada ao Ministério do Interior. Collor, buscando projetar uma nova imagem do Brasil no exterior, viu em Lutzenberger um nome forte para dar legitimidade ecológica ao governo.

Lutzenberger não apenas assumiu um cargo oficial, como também usou sua autoridade para influenciar a política externa brasileira. Defendeu, com firmeza, a abertura do Brasil ao debate ambiental internacional, incluindo temas como desmatamento da Amazônia, emissões de carbono e direitos indígenas — tópicos sensíveis na política brasileira da época.

Foi também graças à sua atuação que o Brasil se posicionou favoravelmente à proposta das Nações Unidas de realizar a conferência de 1992 em solo brasileiro. Lutzenberger participou das negociações diplomáticas e ajudou a construir pontes entre o governo Collor, a ONU e outros países. A escolha do Rio de Janeiro como sede da conferência teve forte influência de sua articulação política e prestígio internacional como ambientalista.

Apesar disso, Lutzenberger deixou o governo alguns meses antes da Rio-92, por discordâncias internas e frustrações com os rumos da política ambiental federal. Ainda assim, seu legado ficou marcado na realização da conferência.

A Rio-92 transformou o Brasil em uma referência global nas discussões ambientais, e foi um ponto de inflexão no debate sobre desenvolvimento sustentável. Lutzenberger, mesmo fora do governo na ocasião, foi reconhecido como um dos arquitetos invisíveis do evento, tendo aberto espaço para a agenda ecológica no centro da política nacional e internacional.

Hoje, às vésperas da COP30 em Belém, marcada para novembro de 2025, o nome de Lutzenberger volta à memória como um dos que prepararam o Brasil para ocupar, mais uma vez, um papel de liderança nas negociações ambientais globais. A história mostra que sem suas ações nos bastidores do poder, talvez a Rio-92 não tivesse acontecido no Brasil — e, por consequência, a trajetória climática do país poderia ter sido bem diferente.

(Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética)

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