Segunda-feira, 16 de junho de 2025

Lembrando ditadores do passado e do presente, Trump avança rumo à militarização dos Estados Unidos

Em um evento relativamente raro na História recente dos Estados Unidos, milhares de soldados e centenas de equipamentos militares desfilaram nas ruas de Washington no sábado (14), em uma parada oficialmente para marcar os 250 anos do Exército, mas que caprichosamente coincide com o aniversário de 79 anos do presidente dos EUA, Donald Trump. A celebração ocorre em meio a gestos da Casa Branca para aumentar a presença de tropas nas ruas em funções de aplicação da lei, e a protestos em centenas de cidades americanas questionando seu custo e acusando Trump de buscar poderes similares ao de um rei.

A parada não é uma ideia nova para Trump. Em 2017, recém-chegado à Casa Branca, ele acompanhou o desfile do Dia da Bastilha em Paris, e meses depois sugeriu um evento similar na capital americana. Contudo, a conta apresentada — US$ 92 milhões — foi chamada de “ridícula”.

Agora, parece que os novos valores, perto de US$ 50 milhões, não são problema para um presidente que, em suas palavras, queria um evento militar único.

“Nós amamos vocês, nós os honramos e honramos seus nobres serviços à nossa bandeira e ao nosso país”, disse Trump em um pronunciamento em tom solene no final do evento. “Hoje comemoramos um evento que não mudou apenas a História americana, mas mudou a História do mundo inteiro”.

Ao final, parte dos presentes no palanque das autoridades, que incluíam membros do Gabinete, cantou “parabéns a você” a Trump, um gesto que deixou nas entrelinhas as reais prioridades do evento.

O Exército exibiu 6,7 mil soldados, mais de 150 veículos, incluindo tanques, blindados e artilharias autopropulsadas do modelo Paladin, além 34 cavalos, duas mulas e um cachorro chamado Doc Holiday, além de dezenas de aeronaves. Em números, uma fração do que o líder russo, Vladimir Putin, colocou na Praça Vermelha em maio, nos 80 anos do Dia da Vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial — na ocasião, quase 12 mil soldados e cerca de 200 veículos, de tanques a caminhões com mísseis balísticos intercontinentais, transitaram pela região central de Moscou.

Protestos

Mas não foi um dia apenas de louvores ao aniversariante. Em centenas de cidades americanas houve uma série de protestos chamados “Dia Sem Reis”, questionando os gastos com a parada militar e, especialmente, a forma como Trump tem usado o governo a seu favor, e moldado a administração à sua imagem. Em Los Angeles, epicentro dos protestos contra a política migratória, milhares de pessoas se concentraram diante da prefeitura, e integrantes do grupo dissidente russo Pussy Riot, banidas pelo regime de Vladimir Putin, traziam consigo uma faixa onde se lia que “tudo está começando a se parecer muito com a Rússia” .

Desde seu primeiro mandato, o republicano testa como poucos os limites do poder presidencial. Mas agora, ele parece ter aprendido como evitar os freios institucionais. Seu círculo próximo é composto por aliados fiéis, como o foi Elon Musk, largado na estrada após divergências orçamentárias, e como o é Stephen Miller, acusado de ter visões simpáticas aos supremacistas brancos. Praticamente não há remanescentes do primeiro mandato no topo da administração atual.

No Pentágono, Pete Hegseth, um ex-comentarista da Fox News e afeito ao compartilhamento de dados sigilosos em aplicativos de mensagens, segue suas ordens sem questioná-las. E não parece ver problemas nos planos para quebrar um dos pilares das Forças Armadas americanas: o de que as tropas não podem ser usadas em projetos pessoais do presidente de ocasião.

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