Segunda-feira, 13 de maio de 2024

Líder do governo é amigo de Lula há 45 anos, mas nem sempre segue a opinião do presidente adotando posições contrárias

Durante sessão do Senado, na última terça-feira, Jaques Wagner (PT-BA) passou dez minutos em uma conversa individual com Sergio Moro (União-PR). O ex-juiz, que mandou o presidente Lula para a cadeia em 2018, pediu ao líder do governo que fosse tirado do projeto sobre as regras para a venda e produção de ouro no país um artigo que proibia a comercialização do minério extraído de terras indígenas. Wagner intercedeu junto ao relator, Jorge Kajuru (PSB-GO), para que o pleito de um dos mais ferrenhos opositores da gestão petista fosse atendido.

O gesto expõe uma das artimanhas do senador pela Bahia para manter diálogo na Casa com o grupo de parlamentares de direita e assim enfrentar menos resistência para aprovar os projetos do governo.

“Meu problema aqui é aprovar matéria. Só. O resto não me interessa. Não vou subir na tribuna para marcar posição”, diz Wagner, ao ser questionado sobre o estilo usado para liderar o governo na Casa em um momento de polarização intensa.

“Amigo de Lula há 45 anos”, como gosta de lembrar, o parlamentar não vê problema em defender posições diferentes das do presidente, mas alega fazer isso por convicção e não como estratégia política para enviar sinais à oposição.

Divergências

Wagner, que é judeu, fez, por exemplo, reparos à comparação feita por Lula entre a ofensiva militar de Israel em Gaza e o Holocausto. Também se posicionou a favor do fim da reeleição, em contrariedade à posição do presidente. Neste caso, o senador, que foi reeleito quando governava a Bahia, alega ter sido pego de surpresa, porque no passado Lula era contra o mecanismo. Na avaliação do congressista, a reeleição não fez bem para a política do país — ele aceita, no entanto, mudar de posição se o PT fechar questão sobre o tema.

Na Esplanada, o senador tem fama de ser a única pessoa do governo com liberdade para apontar diretamente os erros de Lula. O status foi conquistado não só pela longeva amizade, mas também pelo desempenho eleitoral de Wagner: em 2006, ele desdenhou dos prognósticos negativos de Lula e do PT de São Paulo, conquistou o governo da Bahia tirando do poder o grupo político de Antonio Carlos Magalhães e inaugurando uma era que já garantiu hegemonia de 20 anos aos petistas no estado.

A relação de intimidade também abre caminho para as cobranças por parte do presidente. Em novembro, quando Wagner deixou a esquerda surpresa ao votar a favor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita poderes do Supremo Tribunal Federal (STF), Lula se queixou por não ter sido avisado da posição de seu líder. O senador alegou que não queria ser censurado ou tornar o presidente cúmplice de sua decisão. Argumentou ainda que os pontos mais duros do texto tinham sido retirados em negociação com a sua participação e que o PT havia feito um “interpretação simplória” da PEC com o argumento de que era “coisa de bolsonarista”.

Sem “pé na porta”

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou, na época, o voto de Wagner como “um erro”. Mas, se gera críticas de uma ala do PT, o estilo rende elogios da oposição.

“Ele dialoga com todo mundo, não coloca o pé na porta e sempre busca o consenso”, afirma o senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS).

Moro é mais econômico. “Polarização não significa tudo separado”, responde, ao ser questionado sobre o estilo do líder do governo.

Aos críticos de seu campo político, Jaques Wagner, de 73 anos, costuma dizer que a estratégia dos bolsonaristas é “puxar a faca” e que ele teria condições de fazer um “discurso arretado” para se contrapor, mas isso não resolveria a sua vida nas votações dos projetos de interesse do governo.

“Minha vaidade já está para lá de vencida, ainda mais na política”.

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