Quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de março de 2023
A autorização parcial de transações realizadas com cartão começa a ganhar tração no País, depois de o projeto ter ficado em segundo plano frente às restrições de mobilidade trazidas pela pandemia. Lançada inicialmente em 2019 em uma parceria de Visa, Cielo e Bradesco, a iniciativa vem, desde o ano passado, avançando em termos de volume de utilização pelo comércio e adesão de novos participantes.
A solução permite que, caso o valor da compra supere o limite disponível no cartão do usuário, a transação seja parcialmente autorizada pelo banco – e não completamente negada, como ocorre tradicionalmente.
Por exemplo, se o consumidor fizer uma compra de R$ 100, mas só tiver saldo ou limite para pagar R$ 90, um aviso será exibido informando o valor aprovado. Na sequência, o portador poderá escolher o que fazer. Se quiser seguir com a transação, poderá pagar os R$ 90 utilizando o cartão já apresentado e pagar o saldo restante de outra forma. Assim, mais de um método de pagamento poderá ser utilizado na mesma venda.
Elaine Marinelli, diretora-executiva de soluções da Visa, afirma que o projeto aumenta a inclusão e a flexibilidade das operações, permitindo que os consumidores utilizem todos os recursos que têm disponíveis e vendedores aumentem a conversão de vendas.
“A autorização parcial reduz o desconforto da transação negada. Temos visto um crescimento expressivo do uso”, afirma. Em 2022, a solução foi utilizada em 1,5 milhão de transações. Em termos de volume, Elaine diz que só nos três últimos meses do ano foi movimentado o mesmo valor registrado em 12 meses até setembro.
A solução depende da adesão de credenciadoras (as empresas de “maquininhas”) e também dos emissores de cartões (bancos ou fintechs). A Cielo entrou nas discussões em 2019, mas só em 2021 colocou, de fato, a função na rua, explica Alex Lilis, gerente de produtos da companhia. Como, por ora, a opção só é oferecida nas transações presenciais, a pandemia afetou sua implementação.
Lilis explica que a comunicação é parte importante do processo. Por isso, a credenciadora fez um trabalho junto aos estabelecimentos comerciais para explicar o funcionamento e os benefícios da autorização parcial. “Entendemos
que a aceitação foi muito boa. Quando olhamos as reclamações recebidas, esse ponto não aparece, o que mostra que não houve dificuldades.”
Ele acrescenta que o aumento da adoção também passa por um processo de comunicação dos emissores com os seus clientes. Isso para que o portador do cartão conheça a opção e entenda o mecanismo. Atualmente, a Cielo já
habilitou todas os estabelecimentos comerciais clientes que fazem vendas presenciais a aceitar a autorização parcial.
Estão incluídas as transações via cartão de crédito, débito e pré-pago. A PagSeguro, por sua vez, começou a oferecer o produto em 15 de fevereiro. No momento, a opção está disponível para estabelecimentos comerciais de 11 ramos de atividade, entre eles lojas de departamento, mercearias e supermercados, lojas de roupas, restaurantes e farmácias. Até o momento, estão incluídos cartões de crédito e pré-pago de crédito das bandeiras Visa e Elo. A funcionalidade é válida para transações à vista dos emissores PagBank,
Bradesco e Banco do Brasil.
A empresa afirma que o cenário para o projeto é promissor. “Acreditamos que a adoção da função irá diminuir o índice de retentativas e aumentar o número de vendas”, disse em nota. Para a empresa, incentivar o uso por parte dos clientes está entre os principais desafios de implementação.
Segundo a Visa, há outros adquirentes em processo de entrada, além de 31 emissores com o sistema pronto para rodar e que estão em processo de habilitação dos estabelecimentos comerciais.
Há três grandes segmentos de emissores: o de bancos (entre os grandes, além do Bradesco, o Banco do Brasil está na lista); o de fintechs; e o de instituições financeiras ligadas a varejistas. Em nota, o BB afirma que lançou o produto
em dezembro para a função crédito nos cartões Ourocard Visa, para todos os clientes pessoa física.
Em 2021, a Visa também começou a expandir a iniciativa para outros países da América Latina, com destaque para a região do Caribe. Neste ano, além de continuar o processo de avanço regional, a bandeira quer começar a
implementar a autorização parcial também no ambiente on-line.
De acordo com Elaine, o movimento não traz grandes desafios do ponto de vista operacional, mas é preciso cuidado especial com a experiência do usuário. Isso porque, ao contrário do que ocorre na compra presencial, não
há o auxílio de uma pessoa no processo. “Estamos tomando cuidado para que isso já esteja no hábito do consumidor quando ele for fazer sozinho na experiência não presencial”, afirma. A ideia é lançar ao menos um piloto
do projeto neste ano.