Terça-feira, 14 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de outubro de 2025
Na tarde de 13 de outubro, Porto Alegre foi palco de uma conferência que transcendeu os limites da medicina convencional. A renomada geneticista britânica Linda Partridge, uma das maiores autoridades mundiais em biologia do envelhecimento, participou do Unimed Talks, evento promovido pela Unimed Porto Alegre em parceria com o projeto Fronteiras do Pensamento. Com uma carreira dedicada a desvendar os mecanismos genéticos e ambientais que influenciam o envelhecimento, Partridge trouxe ao público gaúcho uma visão transformadora sobre como viver mais — e melhor.
Professora da University College London e diretora do Instituto Max Planck de Biologia do Envelhecimento, Partridge não se limita a estudar longevidade como extensão de anos. Seu foco é o conceito de “healthspan” — o período da vida vivido com saúde plena. “A questão não é apenas adicionar anos à vida, mas garantir que esses anos sejam vividos com autonomia, funcionalidade e bem-estar”, afirmou.
Neurodegeneração e o tempo perdido
Partridge alertou para o diagnóstico tardio de doenças como Alzheimer e Parkinson, que, segundo ela, são “muito difíceis de tratar quando já estão em estágio avançado”. Embora existam terapias que retardem a progressão, o verdadeiro avanço está na prevenção e no rastreamento precoce. Ela defende que a medicina precisa se antecipar aos sintomas, utilizando ferramentas tecnológicas para identificar riscos antes que os danos se tornem irreversíveis.
Medicina personalizada e inteligência artificial: o futuro já começou
A cientista destacou o papel da inteligência artificial na análise de grandes volumes de dados clínicos, genéticos e comportamentais. Essa abordagem permite identificar padrões, prever doenças e propor intervenções sob medida. “A medicina personalizada, baseada em dados e estilo de vida, será a espinha dorsal da saúde do futuro”, declarou.
Robótica e autonomia na terceira idade
Partridge também abordou o uso de robôs assistivos no cuidado ao idoso, especialmente em países como Japão e Coreia do Sul. Essas tecnologias ajudam pessoas com sarcopenia — perda de massa muscular — a manter o equilíbrio e a mobilidade, além de oferecer suporte emocional em contextos de isolamento. “A robótica será essencial onde há escassez de cuidadores e suporte familiar”, afirmou.
Estilo de vida: o remédio mais eficaz e acessível
A cientista reforçou que hábitos saudáveis são determinantes para uma longevidade com qualidade. Exercício físico, sono reparador, alimentação rica em proteínas, controle de peso e vida social ativa são pilares que sustentam a saúde ao longo dos anos. Ela citou a Coreia do Sul como exemplo de cultura que promove o envelhecimento ativo, com idosos engajados em atividades físicas e sociais, inclusive em espaços como academias e discotecas adaptadas.
Ambiente tóxico e doenças emergentes
Um dos pontos mais contundentes da palestra foi o alerta sobre o impacto das toxinas ambientais. Partridge relacionou o aumento de casos de câncer de cólon entre jovens à exposição crescente a poluentes e substâncias químicas. “Estamos diante de uma toxicidade silenciosa que compromete a saúde das próximas gerações. É um tema urgente e ainda negligenciado”, disse.
Geriatria e formação médica: o elo que precisa ser fortalecido
A cientista criticou a ausência de foco na geriatria nos currículos médicos. Com o envelhecimento acelerado da população, a maioria dos médicos atenderá pacientes idosos, mas poucos estão preparados para isso. “Precisamos de mais centros especializados, formação adequada e valorização da geriatria como área estratégica da medicina”, defendeu.
Uma mensagem de esperança e responsabilidade coletiva
Linda Partridge encerrou sua participação com uma mensagem clara e inspiradora: “Vivam a vida mais saudável possível. A ciência está avançando, e com ela, nossa capacidade de envelhecer com dignidade. Mas isso exige escolhas conscientes, políticas públicas eficazes e uma mudança cultural profunda.”
O Unimed Talks reafirma seu papel como espaço de inovação e reflexão, colocando Porto Alegre no centro das discussões sobre saúde, ciência e longevidade. A presença de Linda Partridge não apenas iluminou caminhos, mas também lançou um chamado à ação: o futuro da longevidade começa agora — e depende de todos nós.