Quarta-feira, 21 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de maio de 2025
Na política chinesa, um “livro branco é um documento oficial publicado pelo governo para explicar, detalhar ou defender políticas, posições ou estratégias do Estado em relação a temas específicos. Esses documentos são ferramentas de comunicação política e diplomática, servindo tanto para o público interno, quanto para a comunidade internacional.
Na última semana, o Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China publicou seu primeiro Livro Branco sobre segurança nacional. O documento descreve uma visão abrangente para a salvaguarda da soberania, estabilidade e desenvolvimento no que as autoridades chamam de “nova era”. O Livro Branco apresenta uma estrutura para enfrentar os desafios de segurança tradicionais e emergentes, ao mesmo tempo que reafirma o papel central do Partido Comunista Chinês (PCCh) na orientação da estratégia de segurança nacional.
O texto destaca os avanços e diretrizes estratégicas, uma leitura essencial para aqueles que desejam entender os próximos caminhos que serão trilhados por Pequim. Reafirma a importância da liderança do Partido Comunista Chinês na condução das metas, visando consolidar a posição do país como potência global e impulsionar uma revitalização nacional integral até 2049, centenário da tomada de poder pelo grupo de Mao Tse Tung.
O documento, ao citar o ressurgimento do “hegemonismo, da política de poder e da mentalidade da Guerra Fria”, alerta para o aumento de conflitos geopolíticos, protecionismo econômico e ameaças não tradicionais, como desastres climáticos e ataques cibernéticos. Argumenta que “nenhum país pode viver em uma ilha isolada”, enfatizando a necessidade de cooperação internacional e um futuro compartilhado na economia, deixando uma clara ligação ao projeto da Nova Rota da Seda.
O livro analisa a postura de Pequim em relação aos seus “assuntos internos”, afirmando que “alguns países interferiram gravemente […] causando problemas no Estreito de Taiwan, no Mar da China Meridional [Mar da China Oriental, Xinjiang, Tibete e Hong Kong]”, uma clara referência à visão da China sobre as relações dos Estados Unidos na região da Ásia-Pacífico e um modelo de polaridade global entre Washington e Pequim.
Fato é que as diretrizes deixam claro que estamos diante de uma liderança chinesa cada vez mais assertiva e determinada a remodelar a ordem internacional segundo seus próprios valores e interesses. Isso representa riscos significativos para o equilíbrio global, pois evidencia o aprofundamento da competição geopolítica, além de sinalizar um avanço do autoritarismo como modelo de governança a ser exportado.
Em se tratando de China, sabemos que a retórica de soberania e multipolaridade, tende sempre a camuflar práticas expansionistas e uma rejeição a normas internacionais consolidadas, gerando instabilidade em regiões sensíveis, especialmente no Indo-Pacífico. Além disso, ao enfatizar o papel central do Partido Comunista Chinês na política global, o documento mira na democracia, como um adversário a ser combatido.
A China sabe muito bem onde deseja chegar. O caminho está detalhado e registrado. No futuro, ninguém poderá dizer que foi surpreendido.
Márcio Coimbra – cientista político