Por Redação do Jornal O Sul | 18 de dezembro de 2025
O livro “Notas de Rishikesh”, de L. M. Zenevich, será lançado nesta sexta-feira (19), às 18h, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
Em um cenário editorial saturado por manuais de autoconhecimento, jornadas luminosas e promessas rápidas de bem-estar, a obra surge como um contraponto. O livro não romantiza a espiritualidade. Segundo a autora, que mora em Moçambique, ele a devolve ao seu território original: o da prática, do desconforto, da disciplina e do confronto interno.
A autora, mestre em Direitos Humanos e Ação Humanitária Internacional pela Sciences Po Paris e com extensa atuação em conflitos na África, na ONU e em organizações humanitárias, parte de um lugar onde a palavra “transformação” nunca foi figurativa. Antes de chegar à Índia, Zenevich lidou com tiroteios, negociações tensas, deslocamentos forçados e uma rotina onde salvar vidas era parte do expediente. Quando o corpo cede e a exaustão se torna inevitável, um convite improvável a leva a Rishikesh – não pelo exotismo, mas pela urgência.
O livro reconstrói essa passagem com uma escrita afiada, que mistura humor, ironia e uma vulnerabilidade pouco comum na literatura espiritual. Nada em “Notas de Rishikesh” se assemelha ao imaginário colorido das redes sociais. Na obra, yoga não é performance, é persistência. Meditação não é transcendência, é atrito. Espiritualidade não é silêncio, é o barulho inevitável do corpo e da mente quando somos forçados a escutá-los.
Em um momento em que o mercado editorial é inundado por narrativas idealizadas de autoconhecimento, “Notas de Rishikesh” se alinha a uma tendência contemporânea mais madura: a das obras que encaram a vida real com complexidade, recusando o glamour fácil e trazendo a espiritualidade para seu terreno mais humano. Trata-se de um livro que dialoga com o interesse crescente por relatos verdadeiros, que expõem vulnerabilidades, trajetórias imperfeitas e transformações que acontecem longe dos holofotes — textos que resgatam a autenticidade como valor central e mostram que o caminho interno raramente é linear, confortável ou fotogênico.
Entre templos barulhentos, mosquitos, insônia e longas aulas de yoga, a autora desmonta qualquer expectativa de iluminação instantânea. Em vez disso, oferece um retrato visceral de como mudanças reais acontecem: aos trancos, com cansaço, disciplina e uma coragem quase teimosa – aquela força mínima que insiste em continuar mesmo quando tudo parece ruir.
Com isso, “Notas de Rishikesh” se coloca como leitura essencial para quem busca bem-estar, saúde mental, resiliência e transformação, mas desconfia das soluções mágicas. É um convite para reencontrar fôlego quando tudo parece ruir e para descobrir que, às vezes, a força só aparece quando finalmente paramos o suficiente para ouvir o corpo.
