Sábado, 05 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de outubro de 2023
No fim de agosto, segundo informações do jornal “O Estado de S.Paulo”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tinha urgência em falar com Simone Tebet. A ministra do Planejamento não estava em Brasília, mas foi logo contatada por telefone.
A pressa do petista não era à toa: o Brasil precisava autorizar, ainda naquele mês, uma operação para que o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) concedesse empréstimo de US$ 1 bilhão à Argentina.
Tebet é a governadora do Brasil no CAF e por isso a operação de socorro precisava do seu aval. A rigor, o país vizinho não poderia mais ter acesso aos recursos porque já havia esgotado o limite de crédito.
Com participação de 37,3% no capital do CAF, batizado como Comunidade Andina de Fomento, o Brasil tem o maior peso e influência nas decisões do banco. A inflação de mais de 100% ao ano e sem dólares na praça, o país vizinho necessitava do empréstimo-ponte para o Fundo Monetário Internacional (FMI) liberar um desembolso de US$ 7,5 bilhões.
Lula, porém, entrou em cena e os países-membros do CAF aprovaram a transferência de US$ 1 bilhão diretamente para o FMI, em nome da Argentina. Dos 21 países que compõem o CAF, somente o Peru votou contra. Resultado: o FMI autorizou novo acordo e soltou o dinheiro.
De lá para cá se passou um mês e restam menos de três semanas para a eleição que vai definir o sucessor de Alberto Fernández na Casa Rosada. A possibilidade de vitória de Javier Milei, político visto como a versão piorada de Jair Bolsonaro, provoca cada vez mais pânico no Palácio do Planalto.
Líder populista que se apresenta com um discurso antiestablishment, Milei prega a dolarização do país, a saída do Mercosul, a extinção do Banco Central e o fechamento de vários ministérios para reduzir o tamanho do Estado.
Auxiliares de Lula classificam a eventual ascensão do deputado argentino, que é amigo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), como um verdadeiro desastre. Tanto que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a dizer que “o Mercosul está em risco”.
Defensor do libertarianismo, Milei já insultou os dois principais parceiros comerciais da Argentina: chamou Lula de “socialista com vocação totalitária” e descreveu a China como “governo de assassino”.
O Planalto tem feito tudo para dar uma força ao ministro da Economia, Sergio Massa, que disputa a cadeira de Fernández e esteve com Lula, em Brasília, no dia 28 de agosto. A eleição na Argentina é no próximo dia 22.
Uma pesquisa eleitoral do instituto Atlas Intel, divulgada na última sexta-feira (29), mostra o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, à frente do político de extrema direita Javier Milei na corrida presidencial. Com o resultado, as eleições argentinas iriam para o segundo turno.
Segundo o levantamento, feito com 3.778 entrevistados pela internet entre 20 e 25 de setembro, o candidato do governo tem 30,7% das intenções de voto. Milei, que saiu vitorioso das primárias em agosto, aparece com 27,9%, seguido por Patricia Bullrich, que representa a coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, com 27,7%. Como a margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, eles estão tecnicamente empatados. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Tebet nega
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, negou interferência do presidente Lula na liberação do empréstimo.
“Lula não me ligou”, disse Tebet à CNN.
“Despachei com minha secretária de assuntos internacionais, que disse que os demais países votariam a favor”, completou.
A ministra acrescentou que também não tratou do assunto com o presidente presencialmente e que não consultou o titular da Fazenda, Fernando Haddad.
A secretária mencionada por Tebet é Renata Amaral, de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento do ministério. Amaral decidiu o voto do Brasil em consultas com a área técnica do Itamaraty e da Presidência.