Domingo, 03 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de agosto de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, neste domingo (3), que as negociações com os Estados Unidos sobre o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump exigem cautela, porque há “limites” na briga. Segundo Lula, a diplomacia não permite que ele fale tudo o que acha que “deve que falar, ou que é possível falar”.
O petista tem sido questionado por falas críticas ao republicano. A declaração acontece em meio ao agravamento da tensão entre os dois países, após Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A Casa Branca também impôs sanções ao ministro Alexandre de Moraes pela Lei Magnisky, usada para punir estrangeiros.
Na última sexta-feira (1°), Trump disse à imprensa que Lula pode ligar para ele “quando quiser”. Horas depois, o petista afirmou que o governo dele “sempre esteve aberto ao diálogo”. Fato é que os dois presidentes não se falaram ainda, mesmo após a sobretaxa imposta pelo governo dos EUA.
Lula defendeu ainda que a postura do Brasil em defesa da soberania assusta “pessoas que acham que mandam no mundo”, sem citar diretamente Donald Trump.
“O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”, afirmou o petista.
Lula deu a declaração durante encerramento do evento nacional do PT, em Brasília. Segundo ele, o que tem norteado a postura dele é uma frase do cantor Chico Buarque:
“Eu gosto do PT, porque ele não fala fino com os Estados Unidos, e não fala grosso com a Bolívia. A gente fala em igualdade de condições com os dois. Essa que é a lógica da política”, destacou Lula.
O presidente lembrou, no entanto, que os canais de diálogo estão abertos, e que as negociações seguem em curso.
“O que nós queremos, nós estamos trabalhando, nós vamos ajudar as nossas empresas, nós vamos defender os nossos trabalhadores e vamos dizer o seguinte, quando quiser negociar, as propostas estão na mesa. Aliás, já foram apresentadas propostas pelo Alckmin e pelo Mauro Vieira. Então é simplesmente isso. Eu vou continuar daquele mesmo jeito”, destacou.
“Nós não queremos confusão. Então, quem quiser confusão conosco, pode saber que nós não queremos brigar. Agora não pensem que nós temos medo. Não pensem”, finalizou.
Edinho
Reunidos desde a sexta-feira (1º), petistas discutiram e aprovaram o documento que vai orientar a nova gestão do PT, sob comando de Edinho Silva.
Ex-prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva foi eleito em julho para um mandato de quatro anos à frente do partido. Ele tomou posse no ato deste domingo, ao lado de Lula, que o apoiou na disputa interna da legenda.
Durante seu discurso de posse, o novo presidente do partido reiterou falas anteriores sobre relação com o Congresso, fez críticas a Donald Trump, e defendeu a reeleição do presidente Lula.
“Reeleger Lula significa reafirmar o nosso projeto de país, um Brasil que seja forte, que tenha uma pequena propriedade organizada e protegida […] também o projeto da soberania nacional, não somos e não queremos ser um puxadinho dos Estados Unidos. Não queremos ser quintal dos estados. Queremos ser um país soberano”, afirmou o político.
Além de Edinho Silva, novos dirigentes também foram empossados. Entre eles, o ex-ministro José Dirceu. Aliado histórico de Lula, Dirceu retornou à direção nacional do partido depois de anos.
Das discussões no encontro nacional do PT, nasce o documento que orientará a atuação do partido e que deve destacar os desafios da candidatura de Lula à reeleição. A disputa do próximo ano tem sido avaliada internamente como uma das mais complexas dos últimos anos.
O documento final do evento deste domingo defende a aliança com partidos e cobrar melhorias na comunicação do governo e com evangélicos.
“Além de fazer a mais ampla aliança democrática possível, de partidos e organizações sociais, precisamos constituir um vasto movimento popular, que vá além do campo político e incorpore milhões de pessoas comuns que acreditam na liberdade e na democracia”, diz trecho do documento.
A proposta sinaliza que o PT deve buscar “pessoas que muitas vezes não são de esquerda”. Há também a indicação para que a militância petista mantenha proximidade com católicos e aprofunde o diálogo com evangélicos – segmento da sociedade que tende a escolher políticos de direita.
Há, ainda, uma cobrança de que o partido entre no debate da segurança pública no Brasil. O documento afirma que, apesar dos esforços da atual gestão de Lula, a “verdade é que o problema continua em aberto e parece exigir uma nova abordagem”.