Quarta-feira, 06 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 6 de agosto de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à agência de notícias Reuters, que só pretende ligar para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando sentir que há uma disposição real para o diálogo. Até lá, declarou que não irá se humilhar.
Segundo Lula, a intenção é discutir o chamado tarifaço com os países do Brics — grupo formado por economias em desenvolvimento como Brasil, China, Rússia, Índia e outros.
Lula e Trump, adversários políticos em espectros opostos, nunca conversaram diretamente.
“Pode ter certeza de uma coisa: no dia em que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, afirmou o presidente.
A declaração ocorre em meio à crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos após o anúncio de tarifas comerciais contra produtos brasileiros — medida imposta de forma unilateral por Trump.
A sobretaxa de 50% sobre produtos do Brasil entrou em vigor nesta quarta-feira (6) e é a mais alta já imposta pelo atual governo norte-americano.
De acordo com estimativas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), aproximadamente 35,9% das exportações brasileiras aos EUA serão impactadas.
A medida prevê exceções para itens como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e produtos energéticos. No entanto, carnes e café estão entre os produtos afetados.
Questionado se a relação entre Brasil e Estados Unidos atravessa hoje o pior momento dos últimos 200 anos, Lula afirmou que a origem do problema é clara.
“Vamos colocar as coisas como realmente aconteceram: o presidente Trump, categoricamente e publicamente, é contra o multilateralismo. Ele prefere o unilateralismo. Prefere negociar país com país, em vez de negociar por meio da OMC [Organização Mundial do Comércio]”, declarou.
Também nesta quarta, o Brasil acionou formalmente a OMC para iniciar um processo contra os EUA em razão das tarifas. O governo brasileiro solicitou consultas — etapa inicial anterior à abertura de um painel, mecanismo de julgamento dentro da organização.
Apesar de a OMC estar fragilizada, o governo brasileiro entende que o gesto é necessário. Lula, defensor do sistema multilateral, quis reforçar esse compromisso.
Brics
Outros países do Brics, como a Índia, também foram atingidos pelas tarifas impostas por Trump. O presidente norte-americano argumenta que seu país acumula déficits comerciais com essas nações — o que não se aplica ao Brasil, com quem os EUA mantêm superávit.
“Vou tentar fazer uma discussão com eles [Brics] sobre como cada país está inserido na situação, qual é a implicação para cada um, para que possamos tomar uma decisão conjunta”, disse Lula.
“É importante lembrar que o Brics tem dez países no G20”, completou, referindo-se ao grupo das 20 maiores economias do mundo.