Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de outubro de 2025
Falas polêmicas do presidente Lula (PT) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre tráfico de drogas municiaram seus adversários em uma semana estratégica na relação do Brasil com Donald Trump, com desdobramentos para as eleições de 2026.
Os dois principais gargalos do petismo e do bolsonarismo viraram alvo: segurança pública e soberania.
Lula afirmou que traficantes também são vítimas de usuários, ao criticar os ataques dos EUA de Trump a embarcações em águas internacionais na América Latina. A declaração foi explorada pela oposição, que a tratou como uma mensagem para “proteger bandido”.
Já Flávio sugeriu que os EUA atacassem barcos que carreguem drogas no Rio de Janeiro. A posição foi criticada na base governista, tratada como incentivo à ofensiva de Trump contra a soberania brasileira, semelhante às ações de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), irmão do senador, nos EUA.
A repercussão foi tamanha que os dois tiveram de se explicar. Lula disse no X, antigo Twitter, que sua frase foi “mal colocada” e destacou ações do seu governo contra o tráfico de drogas.
“Fiz uma frase mal colocada nesta quinta e quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado”, disse.
“Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando, como é o caso da maior operação da história contra o crime organizado, o encaminhamento ao Congresso da PEC da Segurança Pública e os recordes na apreensão de drogas no país”, completou.
O senador, por sua vez, gravou um vídeo dizendo que há má vontade da imprensa contra ele, com invenção de que tivesse defendido ataque aos navios na baía de Guanabara.
A segurança pública é um dos principais temas da eleição no ano que vem.
Nesta semana, Lula afirmou categoricamente que será candidato à reeleição, enquanto o STF (Supremo Tribunal Federal) abriu a contagem de dias para uma prisão em regime fechado de Jair Bolsonaro (PL), ampliando a pressão para ele indicar um sucessor.
A declaração de Lula foi rapidamente explorada por bolsonaristas, que buscam frequentemente associar a esquerda e, sobretudo, o presidente a uma conduta benevolente contra o crime organizado e o tráfico de drogas.
“Não foi gafe, é a essência da esquerda”, disse o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ). “Para ele, o bandido é vítima e o cidadão de bem é o culpado. Talvez na cabeça do descondenado, o traficante seja o novo ‘trabalhador oprimido’. O país precisa de justiça, não de romantização do tráfico”, afirmou.
O senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), foi na mesma toada: “Os traficantes são vítimas dos usuários, os assaltantes são vítimas dos assaltados, os assassinos são vítimas dos mortos, os estupradores são vítimas das violentadas e por aí vai”.
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou: “No ritmo que vai, daqui a pouco o PCC [Primeiro Comando da Capital, organização criminosa] vira ONG”.
Em viagem à Ásia, Lula disse: “Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são responsáveis pelos traficantes que são vítimas dos usuários também. Você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra, de gente que compra porque tem gente que vende”.
Lula deve se encontrar com Donald Trump no domingo (26), na Malásia, após uma passagem pela Indonésia. Ele também indicou que pretende falar sobre as ações militares com o presidente americano.
Nos últimos dois meses, os Estados Unidos realizaram ataques a embarcações na costa da América Latina, numa das mais agressivas ofensivas do país na região nas últimas décadas. A mais recente nesta semana ocorreu no Oceano Pacífico e foi compartilhada em uma publicação do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.
Ele disse, sem evidências, que havia dois narcotraficantes a bordo. “Ambos os terroristas foram mortos, e nenhuma força americana foi ferida neste ataque.”
A publicação foi replicada por Flávio com um comentário em inglês, sugerindo que os Estados Unidos ataquem barcos que carreguem drogas no Rio de Janeiro.
“Que inveja. Ouvi dizer que há barcos como este aqui no Rio de Janeiro, na baía de Guanabara, inundando o Brasil com drogas. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas?”, escreveu o senador. Com informações da Folha de São Paulo.