Terça-feira, 15 de julho de 2025

Lula e o ministro Dias Toffoli, do Supremo, vêm ensaiando uma reaproximação em meio às decisões que atingem a Operação Lava-Jato

Após racharem durante a Operação Lava-Jato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), vêm ensaiando uma reaproximação em meio às decisões do magistrado que atingem a operação. O chefe do Executivo já disse a membros do governo que deseja ter um encontro pessoal com o integrante da Corte, que, por sua vez, se esforça para falar a sós com o mandatário responsável por sua indicação ao Supremo. A articulação, caso se consolide, será mais um passo de Lula em direção ao Judiciário, movimento que se tornou crucial com os desgastes vividos na relação com o Congresso.

Aliados de Lula relatam que ele ainda se sente incomodado com a decisão de Toffoli no episódio da morte de Vavá, irmão do presidente, em janeiro de 2019. Na ocasião, o petista estava preso em Curitiba por causa da Lava-Jato, e o ministro do STF deu uma decisão que impediu o petista de acompanhar o velório junto a seus familiares.

A Polícia Federal, à época, alegou questões de segurança e se manifestou contra o pedido da defesa de Lula de que ele deixasse a prisão para ir à cerimônia. O ministro do STF permitiu que o então ex-presidente fosse a São Bernardo do Campo (SP), desde que se encontrasse com familiares em uma unidade militar, e não no local do velório. Lideranças petistas também se queixaram na ocasião que a decisão teria saído tarde, tornando a viagem inviável, o que deixou o mandatário magoado.

De acordo com um auxiliar de Lula, Toffoli já reconheceu em conversas reservadas que se equivocou no teor da decisão e alega que foi induzido ao erro. Procurado, o ministro não se manifestou.

A última vez em que Lula e Toffoli se encontraram em um ambiente mais restrito foi na casa do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em dezembro do ano passado. Ambos conversaram, e o diálogo foi amistoso, acompanhado de outros ministros, segundo presentes — não houve diálogo a sós. Há dez dias, Toffoli sentou-se na fileira atrás de Lula na Sala São Paulo, em evento pelos 90 anos da USP. Eles foram homenageados com a entrega da Medalha Armando de Salles Oliveira, e apenas se cumprimentaram.

Ambos também estiveram no mesmo ambiente na quinta-feira, na posse de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça. Toffoli esteve no Palácio do Planalto e teve o nome citado no discurso do novo ocupante da pasta.

A reconciliação de Lula com Toffoli pode ocorrer em um contexto em que o presidente se reaproximou de outros ministros do STF com os quais já teve rusgas ou que foram alvos de críticas do PT. Governistas veem na aproximação com a cúpula do Judiciário uma forma de contornar potenciais reveses provocados por atritos com o Congresso.

Em seu terceiro mandato, Lula estreitou relações com Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes e também retomou os laços com Barroso. Gilmar, que chegou a impedir a posse de Lula como ministro da Casa Civil em 2016, se tornou um dos principais canais do petista com o Judiciário. No ano passado, na posse de Barroso no STF, chamou Lula de “grande estadista”. Na via contrária, viu o presidente alçar Paulo Gonet a procurador-geral — Gonet tinha o apoio de Gilmar e Moraes.

“Vocês (ministros do Supremo) sentiram na pele o peso do ódio que se abateu sobre o Brasil nos últimos anos. O STF segue cumprindo seu dever, punindo executores, financiadores, autores intelectuais e autoridades envolvidas nos ataques ao Judiciário. Os que atacam o Judiciário se julgam acima de tudo e de todos”, disse Lula em sessão solene na Corte.

Não há consenso, no entanto, se haverá com Toffoli a mesma linha direta já existente com os outros ministros. A relação também é próxima com Cristiano Zanin, que foi advogado do presidente antes de ser indicado por ele à Corte — o tribunal ganhará ainda o reforço de Flávio Dino, ex-ministro de Lula, a partir do fim de fevereiro. Um outro fator lembrado pelos defensores da reconciliação é o período extenso que Toffoli ainda tem pela frente na cúpula do Judiciário: aos 56 anos, poderá ficar na Corte até 2042, quando completará a idade para a aposentadoria compulsória.

Auxiliares apostam no pragmatismo de Lula na relação com a Corte para driblar até a resistência de aliados ainda refratários à recomposição. Esse grupo cita a decisão de Toffoli vetando a ida ao velório, a relação com Bolsonaro, a quem o ministro chegou a convidar para assistir a um jogo do Palmeiras em casa, em 2020. Também gera incômodo a nomeação, em 2018, de um militar, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva, para assessorá-lo na presidência do Supremo. Em 2019, o general virou ministro da Defesa de Bolsonaro. A auxiliares de Lula, o magistrado justificou os movimentos como uma estratégia para conter um eventual plano golpista de aliados do ex-presidente.

Na outra ponta, ministros de Lula que defendem a reaproximação enxergam em gestos de Toffoli uma demonstração de que ele deseja reabrir canais com o presidente.

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