Terça-feira, 11 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de novembro de 2025
Pouco depois de chegar a Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado de que a temperatura das articulações contrárias à indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) estava mais elevada do que a de Belém. Envolvido nos últimos dias com a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP30), na capital do Pará, Lula não escondeu a irritação: decidiu dobrar a aposta.
Enquanto não anuncia que seu escolhido é Messias, no entanto, o chefe do Executivo fica refém de todo tipo de “toma lá dá cá”. Além disso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) – fiador e cabo eleitoral de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – ganha cada vez mais crédito na conta com o Palácio do Planalto.
Diante da desconfiança em relação ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) – sobretudo depois que ele indicou o deputado Guilherme Derrite (PL), secretário da Segurança do governo Tarcísio de Freitas, como relator do projeto antifacção –, Lula precisa cada vez mais de Alcolumbre. O senador atua como uma espécie de “facilitador” do Planalto no Congresso.
Agora, por exemplo, o Centrão pede o comando do Banco do Nordeste, a presidência e a superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal. O PT também está prestes a perder o controle do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), como mostrou o Estadão.
Amigo de Pacheco, Alcolumbre nega a moeda de troca para conseguir apoio a Messias, mas avisou Lula que, se o governo não entrar logo em campo, o advogado-geral da União terá dificuldades quando for sabatinado pelo Senado.
Em público, o Centrão não vincula o aval ao nome de Messias à liberação de cargos, mas, nos bastidores, põe tudo na fatura cobrada do Planalto. Interlocutores de Alcolumbre alegam, ainda, que o atendimento das demandas políticas é fundamental para Lula manter a “governabilidade” na CPI do INSS.
No caso do STF, o argumento usado por senadores de partidos como o União Brasil, PP e PSD é de que ninguém quer na Corte “um novo Dino”.
Aprovado em dezembro de 2023 pelo Senado para ocupar a vaga de Rosa Weber, Flávio Dino obteve o apertado placar de 47 votos, apenas seis a mais do que o mínimo necessário. Seis meses depois, iniciou uma verdadeira cruzada contra o orçamento secreto. Ao jogar os holofotes sobre o desvio de recursos das emendas parlamentares, virou “persona non grata” no Congresso.
Uma ala do Senado, liderada pelo PL de Jair Bolsonaro, com respaldo de integrantes do Centrão, pretende agora usar a votação do nome de Messias, quando sua indicação for enviada por Lula, para impor uma derrota maiúscula ao governo. Mas não se trata só disso: a ideia é sinalizar para um “impeachment simbólico” de ministro do STF, já que a chance de uma proposta assim sair do papel é remota.
Lula disse a aliados que se arrependeu de indicações feitas para a Corte por recomendação de juristas, principalmente em seu primeiro mandato, quando o PT e o governo quase foram dizimados pelo escândalo do mensalão. Agora, só ouve uma pessoa: ele mesmo. (Análise por Vera Rosa/O Estado de S. Paulo)