Terça-feira, 01 de julho de 2025

Mais ovo, menos iogurte e adeus ao azeite: o novo cardápio do brasileiro com os preços altos

Após nove meses consecutivos de preços de alimentos nas alturas, o comportamento do brasileiro mudou nas compras de supermercado em geral. Neste ano, 69% deixaram de levar para casa algum item por causa da inflação elevada. Entre as alternativas para conseguir cumprir minimamente a lista de compras, 44% trocaram marcas caras por mais baratas.

Houve também corte nos volumes comprados, com 35% dos consumidores reduzindo as quantidades de café e 24% deixando de levar para casa iogurte, um dos produtos que entraram para cesta de compras dos brasileiros com o Plano Real. No caso das proteínas, 35% dos consumidores trocaram carne bovina de primeira, porco ou frango, pela carne de segunda, que é mais barata.

Os dados são de um levantamento nacional feito pelo instituto de pesquisas Ipsos-Ipec a pedido do C6 Bank. Foram ouvidos 2 mil internautas, de todas as classes sociais, entre final de maio e meados de junho. E as respostas se referem ao comportamento de compras dos últimos seis meses.

Apesar de a inflação da comida começar dar os primeiros sinais de trégua, os resultados da pesquisa mostram que essa mudança nos preços ainda não foi sentida pela população em geral.

Na prévia da inflação de junho, os preços de alimentos e bebidas recuaram, em média, apenas 0,02%, segundo o Índice Preços ao Consumidor-15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira queda depois de nove meses seguidos de alta. Em 12 meses até junho, a inflação de alimentos e bebidas acumula um aumento de 6,94% de acordo com o IPCA-15. É um resultado que está bem acima da inflação geral de 5,27%.

Esse longo período de alta de preços, sobretudo de alimentos, que respondem por quase um quarto do orçamento doméstico, tirou o poder de compra da população. A aposentada Margarita Barreiros, de 74 anos, por exemplo, diz que a inflação de alimentos não diminuiu. “Se for comparar com um ano atrás, a diferença de preços é enorme”, observa. Hoje, cada vez que vai ao supermercado, ela gasta R$ 200; no ano passado desembolsava a metade.

Para Márcia Cavallari, CEO do Ipsos-Ipec, apesar da desaceleração da inflação apontada pelos índices, o nível de preços continua alto. “Não adianta falar que a inflação está baixa, se os preços estão num patamar elevado”, observa ela.

Além disso, Márcia aponta outras variáveis que contribuem para a mudança de comportamento do consumidor nas compras do dia a dia, como a percepção concreta de que, com o mesmo valor gasto no mês anterior, ele leva para casa uma quantidade cada vez menor de produtos.

Ela aponta ainda a insegurança em relação ao futuro, não só ao Brasil, mas também às guerras em curso no mundo. “As pessoas ficam mais receosas e precavidas, pensando que poderão ter de enfrentar uma situação pior no futuro.” Por isso, diz Márcia, planejam cortes nos volumes comprados, substituições de marcas e de produtos.

O café, o vilão da inflação dos alimentos nos últimos tempos por causa da disparada de preços, levou, por exemplo, 43% dos brasileiros a mudarem de marca, aponta a pesquisa do Ipsos-Ipec. O produto ficou 81,62% mais caro em 12 meses até junho, de acordo com o IPCA-15. Em junho, o café subiu 2,86%, é um ritmo menor do que o registrado em maio (4,82%). Mas os preços continuam em patamar elevado.

Depois de atingir o pico, faz dois meses que o preço do ovo tem registrado quedas significativas. Em junho caiu quase 7%, após ter recuado mais de 2% em maio. Marcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), observa que o ovo voltou recentemente a substituir as carnes porque é uma proteína barata. A pesquisa mostra que 22% dos brasileiros trocaram carne por ovo nos últimos seis meses. E houve também aqueles que reduziram o consumo de ovos, 21%, segundo a enquete.

Além da troca por produtos similares, no caso das proteínas, Milan confirma que a troca de marcas de um mesmo produto pelo consumidor é um movimento que vem sendo observado pelos supermercados de forma contínua desde o final do ano passado.

Para a funcionária pública aposentada Iara Damasceno, de 59 anos, a inflação de alimentos piorou “e muito” nos últimos meses. Atualmente, ela gasta cerca de R$ 3 mil por mês nas compras, R$ 1 mil a mais do que um ano atrás. “Isso, fazendo todas as substituições e não comendo as mesmas coisas.”

Iara trocou a marca não só do café, mas de outros produtos. A carne foi substituída pelo frango e por ovos. “O ovo também subiu muito e a gente fica caçando as cartelas mais baratas.”

 

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