Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 16 de abril de 2025
Uma casa de praia que pertenceu a Hermann Göring, braço direito de Adolf Hitler e um dos principais nomes do regime nazista, está à venda na Alemanha por um valor estimado entre 15 e 18 milhões de euros – o equivalente a até R$ 120 milhões.
Localizado na ilha de Sylt, no norte do país, o imóvel de 202 metros quadrados foi construído em 1937 e é considerado a última residência privada remanescente do espólio de Göring. A casa está situada em um terreno de quase 8 mil metros quadrados à beira do Mar do Norte e é tombada como patrimônio histórico pelo estado de Schleswig-Holstein, por ser um “testemunho do poder” nazista durante o Terceiro Reich.
Com teto de palha, fachada de tijolos vermelhos e estilo típico das construções da região, a propriedade foi completamente reformada ao longo dos anos. Segundo a imobiliária de luxo Sylt Sotheby’s Realty, responsável pelo anúncio, o local hoje combina a arquitetura original preservada com móveis e acabamentos contemporâneos. O anúncio, no entanto, omite qualquer referência à ligação da casa com o regime nazista.
Hermann Göring foi um dos principais articuladores do governo de Hitler. Como comandante da Luftwaffe, a força aérea alemã, e figura central na perseguição a judeus e minorias, ele teve papel determinante no Holocausto. Julgado e condenado à morte por crimes de guerra no Tribunal de Nurembergue, em 1946, Göring se suicidou com uma cápsula de cianeto horas antes de sua execução. A residência em Sylt foi vendida por sua viúva, Emmy Göring, em 1958, por um valor simbólico, muito inferior à avaliação atual.
O imóvel permaneceu sob posse da família proprietária da marca Birkenstock por quase quatro décadas, até ser vendido em 2019 por cerca de 12 milhões de euros. Agora, com o mercado imobiliário de luxo em alta na região, o valor da propriedade subiu significativamente. Sylt é conhecida por atrair a elite alemã, mas nos últimos anos voltou às manchetes por episódios de apologia ao nazismo em festas exclusivas, o que reacendeu o debate sobre o revisionismo histórico no país.
A venda do imóvel tem gerado controvérsia entre historiadores e ativistas da memória. Para alguns, a comercialização de propriedades com vínculos diretos ao nazismo sem qualquer contextualização histórica pode alimentar a banalização dos crimes cometidos pelo regime. Já outros defendem que a preservação e a transparência sobre a origem dessas construções são formas legítimas de lembrar os horrores do passado e evitar que se repitam.
Além do debate histórico, a negociação da casa também levanta questões legais e éticas. Como o imóvel é protegido por legislação de preservação do patrimônio, qualquer intervenção estrutural precisa ser autorizada pelo governo estadual. A imobiliária, por sua vez, tem sido criticada por tentar desvincular a propriedade de sua origem, focando apenas no aspecto arquitetônico e no apelo de luxo da região.
Especialistas alertam que o caso evidencia uma tendência crescente no mercado europeu de ignorar os vínculos históricos de imóveis ligados ao nazismo, principalmente quando estão em áreas valorizadas. Para evitar o apagamento da memória, entidades alemãs ligadas à educação histórica defendem que esses locais sejam sinalizados adequadamente e incluam informações públicas sobre seu passado, mesmo que permaneçam em uso privado.