Terça-feira, 17 de junho de 2025

Memória e solidão: a dor do Alzheimer

Após quase 20 anos, decidi escrever novamente sobre a música “Tão Só”, de Daniel Lemos, uma obra-prima que toca o coração e nossa alma. Essa canção aborda a tristeza de perder a identidade e a solidão que invade a vida de quem convive com o Alzheimer.

É um grito de dor, um lamento que ecoa nos corações de todos que já passaram por essa experiência.

“A alma implora liberdade, o corpo já não sabe a idade”, canta Daniel Lemos… Essa frase cruel captura a essência da doença que rouba não apenas a memória, mas também a identidade e a dignidade.

“É como obedecer passivo, é ser um órfão de pai vivo”, um verso que ressoa profundamente, expondo a dor de ver um ente querido se afastando e se perdendo em um mundo sem sol.

Tive o privilégio de conhecer o pai de Daniel Lemos, o Sr. Valdir Lemos, e conviver um pouco com sua família durante essa dolorosa jornada. Acompanhei parte da luta diária contra a doença, percebendo como cada dia trazia mais dor e tristeza.

A música “Tão Só” foi composta três meses antes do falecimento do seu pai e é um testemunho da força e da criatividade que podem surgir mesmo nos momentos mais difíceis de nossas vidas.

Ela reflete a cruel realidade do Alzheimer, uma doença sem cura, apenas tratamento. É um lembrete de que a vida é frágil e que devemos valorizar cada momento com nossos entes queridos.

Daniel Lemos tocou “Tão Só” no velório do seu pai, unindo todos em torno da mesma dor. Essa música é atemporal. Ela nos faz mais humanos, lembrando-nos de nossa fragilidade diante do universo.

“Um novo mundo se criou (um mundo assim sem sol)” nos leva a refletir sobre as realidades sombrias que enfrentamos. “Tão Só” nos faz pensar na importância da memória, da identidade e da liberdade. É um tributo ao pai de Daniel Lemos e a todos que lutam contra o Alzheimer.

Um exemplo de que, mesmo na dor, podemos encontrar força para criarmos algo belo e significativo. Devemos valorizar nossas memórias, pois, ao envelhecermos, elas são tudo o que temos. Quando nos roubam as memórias, é como se roubassem nossas almas.

Cada lembrança é um fragmento da nossa história; elas nos moldam e nos conectam uns aos outros.

A arte pode ser um poderoso instrumento para expressar emoções humanas profundas. A música é uma forma única de eternizar momentos e sentimentos que muitas vezes não conseguimos colocar em simples palavras.

Ao ouvirmos canções como “Tão Só”, somos convidados a refletir sobre nossa própria vida e as vidas daqueles ao nosso redor.

A perda da memória pode ser devastadora não apenas para quem sofre com o Alzheimer, mas também para os familiares e amigos que observam essa transformação dolorosa.

Precisamos cultivar nossas memórias diariamente, celebrar os pequenos momentos e valorizar aqueles que amamos enquanto ainda podemos.

Essa música é um legado que permanecerá. Um testemunho da dor e da luta contra essa doença.

Um lembrete de que cada dia vivido deve ser celebrado, pois cada memória construída é uma parte vital do nosso ser.

* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

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