Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Memória fraca ou Alzheimer? Saiba quando você deve se preocupar

Com o passar dos anos, o cérebro muda de ritmo. Recuperar um nome pode exigir alguns segundos a mais, objetos se perdem pela casa e ideias escapam no meio do caminho. Esses tropeços fazem parte do envelhecimento, mas há momentos em que a falha deixa de ser apenas um detalhe da idade e passa a indicar que a memória está funcionando de forma diferente. É nessa fronteira que surgem os primeiros sinais da doença de Alzheimer.

Segundo Paulo Gustavo Lacerda, médico nuclear da Clínica de Medicina Nuclear Villela Pedras e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ), envelhecer não significa “apagar” lembranças.

“A memória só fica mais preguiçosa”, explica. Nos lapsos típicos da idade, a informação costuma retornar espontaneamente ou com uma pista, e a autonomia permanece preservada.

Mudança sutil

O alerta surge quando essa dinâmica se altera. Na prática, a transição raramente é brusca. O que familiares percebem, ao longo do tempo, é a repetição frequente de histórias, perguntas que se repetem no mesmo dia e compromissos esquecidos mesmo em períodos tranquilos.

Em outras situações, receitas antigas passam a parecer complexas demais, a organização da rotina se perde ou trajetos habituais se tornam confusos. Para a neurologista Taíssa Marinho, pós-doutora pelo Instituto Neurológico de Montreal da McGill University, esses sinais indicam uma mudança importante.

“No Alzheimer inicial, o problema deixa de ser a distração e passa a ser o registro da informação”, afirma. “Quando a memória recente falha de forma progressiva, mesmo em ambientes calmos, isso já não corresponde ao envelhecimento esperado.”

Linha contínua

O que marca essa virada não é o esquecimento isolado, mas a dificuldade de recuperar a informação, mesmo com pistas, além da frequência crescente dos episódios. No consultório, essa diferença costuma ser clara.

Segundo Francine Mendonça, neurologista do Hospital Beneficência Portuguesa, lapsos benignos variam ao longo do tempo, enquanto os patológicos seguem uma trajetória constante de piora.

“É comum que a família atribua tudo à idade ou ao cansaço, e isso atrasa a avaliação”, diz.

Sinais precoces

Antes mesmo do esquecimento evidente, outros indícios podem surgir. O neurologista Renato Anghinah, professor da Universidade de São Paulo (USP), observa que pacientes passam a errar palavras, interpretar frases de forma inadequada ou se desorientar em locais familiares.

“Às vezes, o primeiro sinal é uma fala fora de contexto ou uma confusão sutil no trajeto cotidiano”, afirma. Mudanças comportamentais também merecem atenção, como apatia, irritabilidade repentina, perda de iniciativa e afastamento progressivo de atividades antes prazerosas.

Apesar disso, esses sinais ainda são frequentemente normalizados. Para Elisa de Paula França, coordenadora do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia, isso é um equívoco.

“Quando o esquecimento já interfere na vida diária, ele não deve ser tratado como algo natural”, ressalta.

Antes disso

Muito antes dos sintomas se tornarem perceptíveis, o cérebro pode passar uma década ou mais acumulando proteínas anormais, como amiloide e tau. Trata-se da fase pré-clínica, em que não há queixas e os testes cognitivos ainda estão dentro da normalidade.

Quando as falhas começam a impactar a rotina, o paciente entra no estágio conhecido como Comprometimento Cognitivo Leve (CCL). Nessa fase, a independência é mantida, mas surgem estratégias compensatórias, como anotações e revisões constantes.

Esse período é decisivo para o diagnóstico precoce, que orienta cuidados, define intervenções e, em alguns casos, permite considerar terapias modificadoras da doença.

Diagnóstico tardio

Apesar dos avanços científicos, o diagnóstico de Alzheimer no Brasil ainda costuma ser tardio. Estigma, negação familiar, dificuldade de acesso a especialistas e falhas na atenção primária contribuem para esse atraso.

Anghinah destaca que a investigação começa pela escuta clínica. “Tudo parte de uma boa anamnese, não de uma ressonância. É preciso entender a progressão dos sintomas, avaliar medicamentos, humor, sono e estresse”, afirma.

A avaliação inclui exames laboratoriais para descartar causas reversíveis, testes cognitivos formais e exames de imagem. Em casos específicos, avaliações neuropsicológicas e biomarcadores ajudam a esclarecer diagnósticos incertos.

(Com O Globo)

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