Quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de setembro de 2025
Em um gesto de profunda humanidade e respeito à memória, Porto Alegre receberá um monumento dedicado às vítimas do terrorismo. A estrutura será instalada na Praça Dr. Maurício Cardoso, no bairro Moinhos de Vento, como presente da comunidade judaica gaúcha à cidade. A iniciativa, liderada pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), é inteiramente financiada com recursos privados e apoio de instituições parceiras, sem uso de verbas públicas.
O monumento, projetado pela arquiteta Mariana Kripka e executado pelo engenheiro Leonardo Silberfarb, é mais do que uma obra física: é um símbolo de resiliência, memória e esperança. Com estrutura em concreto, placa de aço, iluminação embutida e vegetação central — esta última representando o renascimento — a instalação carrega em sua lateral a inscrição: “Em memória a todas as vítimas do terrorismo”. A frase sintetiza o espírito da homenagem: um chamado à consciência coletiva contra o extremismo e a violência.
A motivação para a criação do monumento surgiu após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, em Israel, que vitimou centenas de pessoas de diferentes origens, religiões e nacionalidades. Entre elas, estava o jovem porto-alegrense Ranani Nudel Glazer, de apenas 24 anos. Sua morte, assim como a de tantas outras vítimas inocentes, tornou-se um ponto de inflexão para a comunidade local, que decidiu transformar o luto em ação e a dor em legado.
“Este monumento não é apenas uma pedra erguida, mas um compromisso coletivo para lembrar, para que a dor não nos paralise, e para reafirmar que a vida sempre será mais forte que o terror”, afirma Daniela Russowsky Raad, presidente da FIRS. A proposta, segundo ela, não tem caráter político, mas sim humanitário. É uma resposta simbólica e concreta à barbárie, que busca preservar a dignidade das vítimas e inspirar a construção de um futuro mais justo e pacífico.
A escolha da Praça Dr. Maurício Cardoso como local da instalação também carrega significado. Situada em uma das regiões mais tradicionais da capital gaúcha, a praça é ponto de encontro, convivência e contemplação. A presença do monumento ali transforma o espaço urbano em território de memória, onde o cotidiano se cruza com a reflexão e o respeito.
A iniciativa contou com o apoio da Associação dos Amigos da Praça Maurício Cardoso e da Prefeitura de Porto Alegre, que reconhecem o valor simbólico e social da obra. Ao se somar a outras cidades do mundo que cultivam a memória como ferramenta de paz — como Berlim, Nova York, Tel Aviv e Buenos Aires — Porto Alegre reafirma seu compromisso com os valores universais de liberdade, tolerância e justiça.
O monumento também dialoga com a experiência recente do Rio Grande do Sul, marcada por tragédias climáticas e desafios sociais. Em meio à reconstrução e à busca por soluções, a homenagem às vítimas do terrorismo surge como um lembrete de que a superação é possível, e que a memória é parte essencial desse processo. Ao olhar para o passado com respeito, a cidade projeta um futuro mais consciente e solidário.
A cerimônia de inauguração está prevista para o final de outubro e deverá reunir autoridades, representantes da comunidade judaica, familiares de vítimas e cidadãos porto-alegrenses. Mais do que um evento formal, será um momento de comunhão, onde diferentes vozes se unem em torno de uma mensagem comum: nunca esquecer, sempre resistir, e acima de tudo, viver.
Com esta ação, a comunidade judaica gaúcha oferece à cidade um presente que transcende o concreto e o aço. Oferece um espaço de reflexão, um ponto de encontro entre memória e esperança, e uma lembrança permanente de que a paz é construída todos os dias — com gestos, com diálogo e com coragem.
Porto Alegre, assim, não apenas acolhe um monumento. Acolhe uma ideia. Uma ideia que resiste ao tempo, ao ódio e à indiferença. Uma ideia que transforma dor em dignidade, e memória em futuro. (Gisele Flores)