Quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de novembro de 2025
É uma cena comum nas estradas brasileiras: motoristas que viajam entre cidades perdem o sinal do celular e precisam recorrer a mapas offline ou à própria memória para evitar erros no trajeto. Mesmo com o avanço das redes de telecomunicações em áreas urbanas nos últimos anos, a conectividade nas rodovias segue em ritmo lento.
De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), apenas 47% dos 445 mil quilômetros das rodovias federais e estaduais contam com cobertura 4G de ao menos uma operadora. Quando a análise inclui o 5G, de altíssima velocidade, o cenário é ainda mais restrito: o sinal está presente em menos de 12% da malha viária nacional.
Para especialistas, o país precisa acelerar investimentos e endurecer a regulação para se aproximar de padrões internacionais. Nos Estados Unidos e no México, cerca de 90% das rodovias já têm conexão móvel. Na Ásia, a China chega a 80% das vias atendidas. Na Europa, países como a França trabalham para alcançar 100% de cobertura até 2027. Hoje, a conectividade brasileira depende quase exclusivamente do sinal de telefonia móvel, já que soluções como satélites e redes Wi-Fi ainda não são economicamente viáveis, segundo empresas do setor.
Em busca de avanços, a Anatel e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) atuam para atualizar regras e modernizar os modelos de concessão. A Anatel estuda incluir, no próximo leilão de frequência de cobertura móvel previsto para este ano, a obrigatoriedade de atendimento a trechos de rodovias federais de forma escalonada. A proposta busca forçar as operadoras a ampliar sua infraestrutura para além dos grandes centros urbanos.
Segundo Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da agência, será a segunda tentativa de exigir cobertura nacional. Em 2021, a Winity, do Fundo Pátria, arrematou uma frequência nacional, mas devolveu a licença devido à inviabilidade operacional, deixando para trás a obrigação de conectar todas as rodovias federais. Pasquali afirma que a exigência voltará ao edital.
“As empresas regionais que venceram o leilão do 5G em 2021 já demonstraram interesse nessa frequência. A meta é fechar seis rodovias federais prioritárias, como a BR-101, que ainda tem cerca de mil quilômetros sem cobertura. O prazo será de três anos para alcançar 100% conectados. A regra será cobertura 4G, que é a tecnologia base. O que ainda não conseguimos definir é em quanto tempo o país pode atingir 100% da malha nacional conectada”, diz.
Outra frente em análise é a obrigatoriedade de roaming entre operadoras nas estradas, permitindo que o motorista permaneça conectado mesmo fora da área de cobertura da própria empresa, utilizando a infraestrutura de outra. A Anatel estima que a regra entre em vigor até meados do próximo ano.
“A medida se tornou necessária porque as operadoras, por iniciativa própria, não avançaram em acordos de roaming fora dos grandes centros. Conexão em rodovia não gera receita adicional, já que quem está viajando já possui seu plano de celular, mas é essencial para a população”, afirma Pasquali, que lembra que a agência planeja novo leilão em 2027.
A ANTT também tem buscado ampliar a conectividade. No ano passado, a agência autorizou concessionárias com contratos antigos a desenvolver projetos específicos para melhorar o sinal nas estradas, podendo repassar o custo adicional às tarifas de pedágio. Desde a 4ª Etapa de Concessões, em 2018, a conexão se tornou obrigação contratual regulatória, substituindo os antigos call boxes instalados a cada quilômetro da via. Dos 26 leilões já realizados — dez somente neste ano — as concessionárias assumem a obrigação de oferecer 100% de cobertura ao longo dos primeiros cinco ou oito anos, conforme o contrato.
Segundo Felipe Fernandes Queiroz, diretor da ANTT, as regras não definem qual tecnologia deve ser usada. A agência administra 31 contratos que somam 16,1 mil quilômetros em 14 estados e no Distrito Federal. A meta é chegar a 25 mil quilômetros de rodovias concedidas até 2030.
(Com O Globo)