Quarta-feira, 13 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 13 de agosto de 2025
O coronel Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto, redigiu mensagens em seu telefone celular expondo atritos dentro do PL entre o general e um irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O conteúdo do celular de Peregrino foi extraído pela Polícia Federal (PF) após ter realizado busca e apreensão contra ele, em dezembro do ano passado. O coronel fez anotações sobre as articulações golpistas e escreveu que Jair Bolsonaro “sempre” teve a intenção de permanecer no governo mesmo após a derrota.
Para o coronel, esse irmão da ex-primeira-dama, Eduardo Torres, que foi candidato a deputado distrital pelo PL, “usava o nome de Jair Bolsonaro e de Michelle” para vender influência dentro do partido e intermediar encontros com o ex-presidente. Peregrino escreveu que Braga Netto havia ficado irritado com a situação e classificou de “tráfico de influência” as ações do irmão de Michelle.
A defesa do coronel Flávio Peregrino afirmou que as mensagens “são discussões internas, a nível de assessoramento, de assuntos funcionais e profissionais corriqueiros que sempre foram tratados, com quem de direito e interessado, de forma transparente, com base em dados e fatos e com a observância da educação e da ética, que caracterizam as pessoas envolvidas e citadas na reportagem”. Disse ainda que ele não apontou nenhuma suspeição ou irregularidade na atuação do irmaõ de Michelle Bolsonaro.
Nas anotações, o coronel Flávio Peregrino citou a suspeita de que Eduardo Torres usava o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro para a obtenção de recursos financeiros, sem explicar de que forma isso ocorria. Com o apoio de Michelle, Eduardo Torres tem ganhado espaço no partido e já prepara uma nova candidatura para 2026.
Em uma das anotações sobre o irmão de Michelle, Peregrino escreveu que Braga Netto, citado pela sigla W, e Nabhan Garcia estavam irritados com a situação.
“O Eduardo Torres (irmão da Michelle) não tem nem cargo no PL, mas faz um lobby e usa o nome do B e da MB para ter influência e angariar apoio ($$). Por isso, o W e Nabhan estavam putos com esse tráfico de influência nas agendas e nas viagens em SP. Ele é ‘zé bombinha’ (fotógrafo e cinegrafista) mas vende que tem poder de influência”, anotou Peregrino, em mensagem enviada a si próprio pelo WhatsApp no dia 14 de junho de 2024.
Mensagens escritas no WhatsApp pelo coronel Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto
Em seguida, Peregrino citou que seu nome foi envolvido na confusão para desviarem o foco do problema e demonstrou preocupação pelo assunto ter chegado ao conhecimento de Michelle. As anotações também indicam que o assunto foi levado ao conhecimento do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mas não há registro da resposta dele sobre o tema.
O coronel não deu mais detalhes sobre as ações realizadas por Eduardo Torres. As mensagens também mostram que Peregrino tentou angariar apoio político para manter seu contrato e do general Braga Netto com o PL.
Após a derrota na disputa eleitoral, Braga Netto foi nomeado secretário de Relações Institucionais do partido. Em fevereiro de 2024, quando foi alvo da operação da Polícia Federal que apurava a tentativa de golpe, ele teve seu salário suspenso.
Em uma das mensagens, Peregrino apresentou uma lista de pessoas que eles deveriam procurar para obter apoio com o objetivo de continuar no partido. Uma delas era a ex-primeira dama Michelle, considerada influente na legenda. “Situação no PL. (…) Alguém ligou para VCN [Valdemar Costa Neto] dizendo que era para dispensar toda a equipe”, diz um dos trechos da anotação. “Buscar apoio: sen FB [senador Flávio Bolsonaro] (tudo que foi feito na campanha), sen Rogério M [Marinho], Gilson Machado, D. Michelle”. As articulações, porém, não surtiram efeito e eles acabaram sendo afastados da legenda.